Michael
Biberstein morreu no domingo, vítima dum súbito AVC.
Tinha 64
anos.
Pintor suíço
radicado em Portugal desde os anos 1970, mas realizando exposições pelo mundo
inteiro, as palavras mais associadas à sua pintura são “paisagem”,
“romantismo”, “sublime”.
Quem leu
este meu post talvez tenha percebido
que ele era um artista que eu muito admirava. Porém, o homem simples que também
era conquistou a minha simpatia logo à primeira vista, em 2004, ano em que,
para grande surpresa minha, acedeu a fazer uma exposição em Évora.
No primeiro
telefonema que me fez, disse:
- Está, Maria, daqui Mike.Percebendo o meu silêncio, próprio de quem acha que há ali um engano, ele acrescenta rápido – Biberstein. A partir de aí foi assim que nos tuteámos.
Para a
exposição, primeiro entrou um homem com um enorme tapete vermelho que esticou
no chão. Dias depois, entrou o Mike com uma pedra e umas tintas que, depois de
preparadas, deitou sobre a pedra, e foi embora.
De seguida, chegou Manuel Mesquita, com a
instalação sonora que tinha preparado para acompanhar a exposição, e fez o seu
trabalho.
E assim
ficámos por vários dias.
Mike tinha algumas
ideias vagas sobre o que queria fazer mais. Nada muito concreto ainda, ou
arrumado na cabeça, mas eu percebia que estava à procura, que o seu cérebro
estava em permanente laboração para aquela exposição.
Contudo, dali não saiu
mais nada até ao dia da inauguração da mesma, quando Mike apareceu, depois
de almoço, com papéis brancos, telas pretas e algumas aguarelas. Pegou no
martelo, colocou tudo em cinco minutos, e foi embora até à hora marcada para a
inauguração.
Eu olhava e
só pensava: “olha que coisa mais linda”.
No final da
exposição, Mike perguntou-me se gostava das aguarelas, e perante o meu
entusiasmo com elas disse: escolhe uma, Maria, que te quero oferecer. Pouco
habituada a generosidades destas, perguntei porquê ao que ele respondeu que eu
o tinha deixado fazer tudo o que queria, no tempo em que quis, aguentando firme,
e por isso merecia.
As aguarelas tinham um preço de venda ao público quase
pornográfico, mas era o preço de mercado de Michael Biberstein. Eu escolhi,
claro; ela está e estará comigo como recordação viva dum dos raros encontros
inesquecíveis que acontecem nas nossas vidas.
Mike partiu
no domingo, muito cedo. Demasiado cedo.
Talvez por
isso, para além do que acabo de contar, lembrei-me ainda do título que ele
escolheu para esta exposição.A partir da célebre afirmação de Einstein sobre as leis da física – “God doesn’t throw dice” (Deus não joga aos dados), Michael resolveu perguntar: “…so what about marbles, Albert, did he play with those?” (…e berlindes, Albert, ele jogou com eles?”).
A pergunta
continua pertinente, mas talvez Mike já tenha a resposta.
Oxalá.