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segunda-feira, março 04, 2013

Há sempre alguém que resiste



Esta mania do “quantos mil eram” serve a quem, e para quê?
Temos, por acaso, todos alma de contabilistas?
No sábado éramos muitos, muitos milhares; quem lá esteve sabe. Quem esteve de outras vezes sabe ainda melhor.
Eu sei, e tenho a certeza que o governo também sabe. Isso me basta.

Estávamos, sem dúvida, mais tristes, mais velhos, mais silenciosos, mas ainda vivos.

Éramos os milhares que nunca têm compromisso inadiáveis em dia de manifestação.
Os que não perguntam para que serve uma manifestação, que é a pergunta mais idiota que conheço.
Os que nunca sentem que não serviu para nada só porque o governo não caiu logo no dia seguinte.
Os que, porém, têm a certeza de que ajudaram a abrir o buraco em que ele vai tropeçar.
Os que não são assaltados por dúvidas existenciais sobre a legitimidade de querer derrubar um governo eleito, mesmo se esse governo enganou os eleitores e governa contra eles.
Os que não se deixam ir para o matadouro sem um balido.
Os que resistem ao medo e ao comodismo.

Éramos, tão só, aqueles anónimos em que o poeta seguramente pensava quando, há muitos anos, escreveu:
“…há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz NÃO”.
E somos muitíssimos.

 
 

 

sexta-feira, novembro 09, 2012

Vem aí a Merkel

Geralmente em modo zangado, já muitas vezes aqui abordei o tema Merkel.
Ela vem aí, e à sua espera terá uma manifestação cujo slogan é – Que se lixe a troika, a Merkel não manda aqui.

Acontece que manda.

E manda sobretudo por causa do nosso comodismo e analfabetismo político, muito mais do que pelo facto de a Alemanha ser nossa credora.

Se o projecto de Europa a que aderimos está hoje completamente desfigurado pela existência dum directório em que a Merkel é soba, a culpa é nossa.

Se aqui estamos agora, pobres e sem soberania para sair da pobreza, é porque, de todas as vezes que houve um novo tratado, nunca exigimos conhecê-lo, discuti-lo ou referendá-lo, isto é, assinámos de cruz.

A Merkel é nossa credora usurária mas contra ela nada posso – não a elegi, e a sua permanência no poder não depende da minha vontade nem dos meus gritos, que também não a fariam mudar.

O que eu posso, e tenho o dever de fazer, é gritar aos ouvidos do meu governo que é ele que tem que gritar aos ouvidos da Merkel, e dos outros, que precisamos renegociar a dívida para que a possamos pagar; se o governo não o fizer ou nada conseguir, eu vou gritar-lhe aos ouvidos que tem que, ao menos, negociar a nossa saída do clube dos ricos a que, manifestamente, deixámos de poder pertencer.

É isso, e apenas isso, que estou disposta a gritar “até que a voz me doa”.
Quanto à Merkel, já está fora da minha “guerra”.

Assinar cartas a dizer-lhe que é mal-vinda, ou ir berrar-lhe coisas que ela não ouvirá, parecem-me actividades lúdicas e inconsequentes que, com franqueza, não me apetecem.
Posto isto, e como sempre preciso de encontrar algum sentido para o que faço, obviamente, não vou.

 
PS: Tudo o que disse não invalida que, após a sua saída, o país precisasse de muitos objectos como o da imagem acima, roubada há tempos ao blogue Delito de Opinião.

 

segunda-feira, setembro 17, 2012

Como eu vivi a estuporada semana de Setembro

 

 

No dia 7 de Setembro, a meio da tarde e com a mala já desfeita, considerei-me instalada para gozar uma semana de férias.

Antes do pôr-do-sol, Passos, via televisão, lança a sua taxa Rabin dos Bosques vestida à pressa e do avesso; de seguida, parte para cantar a Nini, ou lá o que foi.

Mesmo antes de ele ter tempo de abandonar a sala, eu já tinha percebido
que aquele fedelho impreparado e mentiroso tinha acabado de me tirar também as férias.
Se aprendemos que a saúde não é a mera ausência de doença, é fácil perceber que férias também não são a mera ausência de trabalho.

Longe da internet, por ali andei a jiboiar ao redor da televisão.
Aos poucos, fui percebendo que o homem tinha feito o pleno, estava sozinho, e não havia uma única voz que se levantasse em defesa daquela coisa.

Um feito notável, que desde já lhe assegura um lugar cativo no panteão das nossas sinistras figuras históricas.

Cheguei a tempo de participar na 2ª maior manifestação da minha vida, com gente de todas as idades; tomando a rua, zangados mas bem-dispostos, afirmativos, sem medo, unidos, determinados (finalmente) a dizer BASTA.

Bati com uma colher de pau torta numa tampa velha, gritei que “o povo unido jamais será vencido”, “FMI fora daqui” e “gatunos”.

Senti-me num tempo circular, estranho, enérgico mas, simultaneamente, penoso – é que eu (como muitos outros que lá estavam) já gritei tudo isso há trinta anos atrás e nunca esteve nos meus planos de vida voltar a gritar as mesmas palavras três décadas depois.