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terça-feira, dezembro 04, 2012

A senhora na nuvem

Durante uns bons vinte anos, todos somos filhos de alguém. O menino ou a menina A ou B são filhos do senhor C e da senhora D.

Algures num tempo incerto, tudo se inverte − o senhor C e a senhora D passam a ser os pais de A ou B.

Profunda alteração, esta, que, muito prosaicamente, se pode resumir dizendo que os meninos já são adultos e os pais já estão a ficar velhos.

Se isto não tem lá grande piada, certo é que também pode proporcionar uma segunda e insuspeitada “existência”.

Por exemplo, a mãe do Herman José não teria existência pública sem o filho; Helena Sacadura Cabral sempre a teve, e continua a ter, mas ela foi potenciada pela subida à ribalta dos seus dois filhos.
Contudo, para o resto das suas vidas, ambas permanecerão, em grande medida, as mães do Herman, do Miguel e do Paulo.

Mesmo a um nível isento de exposição mediática, um filho respeitado e estimado no seu meio, quer pela seriedade e qualidade do trabalho que desenvolve quer pelo seu carácter, pode transformar o aparecimento da sua mãe numa espécie de descida à terra de Nossa Senhora da Conceição poisada na nuvem. Dar-lhe uma “existência” não expectável.

E isso é bom para quê, pode perguntar-se.
Pois, é bom para a alma, seja lá isso o que for.

Verdade, verdadinha, que dispenso o séquito de anjinhos e querubins que sempre acompanham a imagem da santa, mas lá que eu gosto muito de descer à terra encarrapitada na nuvem, lá isso gosto. E ponto final.