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quinta-feira, janeiro 19, 2012

" Conversas n' A Catedral"

Levei anos a resistir à leitura de algum livro de Mário Vargas Llosa.
Certo é que podemos gostar do artista e não do homem (ou mulher) e vice-versa. Neste caso, quase tudo me desagradava no homem: o seu ar de galã sul-americano, a sua arrogância intelectual, o programa neoliberal com que se apresentou às eleições para presidente do Peru em 1990

Finalmente decidi-me pelo “Conversas n’ A Catedral”, um calhamaço de 630 páginas, e não me arrependi, embora no início tenha tido a sensação de que o autor estava a dizer-me: leitora, tu és burra, vou-te provar que és burra, vais desistir desta minha magnífica obra.

Abusando claramente dos seus vastos recursos estilísticos, usa desnorteantes diálogos intercalados (cada linha uma pessoa, um assunto, um tempo), discurso indireto livre e solilóquios em simultâneo; contudo, este desbragamento estilístico vai-se moderando, e no final ficamos com a sensação que este é um dos grandes romances do século xx.

Em “Conversas n’ A Catedral”, conta-se a história de Santiago Zavala,
que viveu a ditadura de Manuel Odría entre 1948 a 1956 no Peru, e traça-se um vasto retrato do país nessa época.
Logo na primeira página, Llosa escreve:

Ele era como o Peru, Zavalita, a certa altura, tinha-se fodido. Pensa: em que altura?

Com uma pequena alteração geográfica, esta é a pergunta que muitos de nós, portugueses, estamos a fazer neste momento.