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quarta-feira, abril 13, 2022

Encruzilhadas


 No princípio dos anos 2000 li Correcções de Jonathan Franzen e gostei muitíssimo.

Depois li Freedom e só gostei assim-assim, deixei passar Purity e agora decidi-me por ler Encruzilhadas.

Desta vez não entramos num bocado da América contemporânea, como é costume do autor, mas regredimos aos anos 1970 num qualquer subúrbio próspero de Chicago.

Mais uma vez a família, os seus momentos de rotura pessoais e colectivos, tudo contado com uma estrutura que considero preguiçosa, isto é, uma pessoa de cada vez, uma história de cada vez, um drama de cada vez, uma rotura de cada vez.

É certo que ele sabe contar histórias que nos entretêm mas no fim, também com alguma preguiça, ouso canibalizar Rogério Casanova na sua apreciação do livro quando ele escreve:

 A sensação que fica muitas vezes dos seus livros é a de um aluno muito esperto que decidiu dedicar toda a sua energia a fazer o melhor trabalho de casa de todos os tempos.”

Não é muito, convenhamos.


terça-feira, outubro 26, 2021

Lido

 "A história da oposição dos homens à emancipação das mulheres é porventura mais interessante do que a história dessa emancipação."

Virginia Woolf

Um Quarto Só Seu

Penguin Clássicos (ed. Bolso)

domingo, outubro 17, 2021

3 Livros

 


Três magníficos.
Natalia Ginzburg fala-nos da sua família, integrada no tempo que vai correndo em Itália e no mundo. Com ela percebemos o que já sabíamos sem saber que sabíamos, isto é, que todas as famílias têm o seu linguajar próprio, o seu léxico familiar. Foi contemporânea de Pavese com quem trabalhou na célebre editora Einaudi e dele, a certa altura do livro, e a propósito da sua vida e do seu suicídio, traça um belo e lúcido perfil.
Sobre os outros dois livros, ocorre-me dizer que se pode escrever sobre a dureza da vida com gentileza e sensibilidade (Pavese), ou pode-se agarrar nos cabelos do leitor e atirá-lo contra a parede (Toni Morrison).
Da leitura de todos se sai mais vivo.

segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Citação


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Por vezes o desgosto ficava próximo, à espera, contido a custo, e eu podia ignorá-lo momentaneamente. Mas outras vezes era como uma taça que estava sempre cheia e não parava de transbordar.”

Lydia Davis
Não Posso nem Quero
Relógio d’Água

sexta-feira, janeiro 02, 2015

(Re) Começo















 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Flaubert ensina-nos a olhar para a verdade e não temer as suas consequências; ensina-nos, como Montaigne, a dormir na almofada da dúvida; ensina-nos a não nos aproximarmos de um livro em busca de pílulas morais ou sociais: a literatura não é uma farmacopeia; ensina a superioridade da Verdade, da Beleza, do Sentimento e do Estilo. E se estudarmos a sua vida privada, ensina a coragem, o estoicismo, a amizade; a importância da inteligência, do ceticismo e da imaginação; a palermice do patriotismo barato; a virtude de ser capaz de ficar sozinho no quarto; o ódio à hipocrisia; a desconfiança nas teorias; a necessidade de falar com simplicidade.”

Julian Barnes
“O Papagaio de Flaubert”
Quetzal

 
Tudo isso e o mais que a vida trouxer neste ano ainda novinho em folha.
Começo ou recomeço.
Aprender ou reaprender.

 
Imagem roubada ao blogue SEGUNDA LÍNGUA, num post intitulado “Portas onde nos apetece estar”

sexta-feira, outubro 10, 2014

“A Instrumentalina”


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No último post, talvez eu tenha sido injusta com a escritora Lídia Jorge, talvez tenha sido injusta com os afectos dos outros, talvez tenha sido genericamente injusta.
Talvez tenha sido sombria também.

No Facebook, um amigo disse simplesmente – “eu gosto da Lídia” e, num comentário seguinte falou, breve mas sentidamente, dum conto dela chamado “A Instrumentalina”.

Fui ler. Encontrei-o por aí, em pdf, e gostei muito. Pensei, inclusive, que talvez a Lídia Jorge se devesse dedicar mais a essa difícil arte de escrever contos.

Deixo aqui “A Instrumentalina” como o encontrei, com um convite à leitura no fim-de-semana, e um agradecimento a quem mo apresentou e a quem o escreveu.

Com ele, saí um pouco da sombra de ontem para a luz de hoje.
E isso vale bem mais que uma moeda de ouro (quem ler perceberá).

A Instrumentalina

segunda-feira, julho 21, 2014

Olha que coisa mais linda




 
 
“Um dia, Deus debruçou-se demasiado sobre um bocado de barro e caiu para dentro do Homem”.

Fragmentos persas
Anónimo, século I depois de Hégira
- Selecção e recolha de Téophile Morel)
In, Para onde vão os guarda-chuvas
Afonso Cruz
Alfaguara, Novembro 2013, 2ª edição

Nota: um bom texto sobre o livro pode ser lido aqui e começa assim:
Por vezes, somos deslumbrados por um livro que nos faz sentir pequenos.
“Para onde vão os guarda-chuvas” é um dos mais belos livros que li nos últimos anos.
Mário Rufino

Eu estou inteiramente de acordo!

quarta-feira, julho 02, 2014

Ao espelho


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um dos grandes fascínios que a literatura exerce em mim é poder encontrar-me, inesperadamente, num qualquer recanto de página e, nesse momento, sentir que não estou sozinha, ninguém está sozinho, por mais esdrúxula que possa parecer a identificação encontrada. 

Comecei a ler “Para onde vão os guarda-chuvas” de Afonso Cruz (Editora Objectiva, 2013) e, logo nas epígrafes, lá estou:

De certeza que já te cruzaste comigo mil vezes, mas o teu olhar nunca se fixou em mim. Admiras-te? Sou assim: não atraio a atenção. Sou um camaleão humano ou algo parecido. Dissolvo-me no que me rodeia, faço parte da paisagem: não tenho nada em que os olhos se prendam. Tudo em mim é de tal forma comum que as pessoas olham e não me vêem.
(Testamento de um poeta judeu assassinado, Elie Wiesel)

Os que me são próximos sabem que sinto assim.
Dantes, talvez porque ainda quisesse deixar uma marca no mundo, havia decepção. Agora, uma bênção.

Imagem: Girl at mirror, 1954 – Capa de The Saturday Evening Post, 6 Março de 1954, de Norman Rockwell

sexta-feira, abril 04, 2014

Viajando no sofá





Assim que se chega ao Saara, seja pela primeira ou pela décima vez, atenta-se na imobilidade. Um silêncio incrível, absoluto, prevalece fora das povoações; e dentro destas, mesmo em locais de azáfama, como os mercados, há nos ares uma qualidade de silencioso recato, como se a pacatez fosse uma força consciente que, ressentindo-se da intrusão do som, minimizasse e dispersasse o som de imediato.

Seguidamente há o céu, comparado com o qual todos os outros céus parecem esforços de corações débeis. Sólido e luminoso, ele é sempre o ponto focal da paisagem.

Ao crepúsculo, a sombra precisa, encurvada, da Terra ergue-se para ele rapidamente no horizonte, dividindo-o em secção luminosa e secção escura.

Quando toda a luz do dia já desapareceu e o espaço está pejado de estrelas, ele continua a ser dum azul intenso e ardoroso, mais escuro directamente por cima e empalidecendo em relação à Terra, pelo que a noite realmente nunca se torna escura.

Deixa-se o portão do forte ou da povoação para trás, passa-se pelos camelos deitados cá fora, sobe-se ao alto das dunas, ou sai-se para a planície dura e pedregosa e fica-se algum tempo em pé, a sós.

Daí a pouco, ou se estremece e se regressa a correr para dentro das muralhas, ou se continua ali em pé e se permite que nos aconteça algo de muito peculiar, algo que toda a gente que aqui vive já sofreu, e ao qual os franceses chamam le baptême de la solitude.  É uma sensação única, e nada tem a ver com a solidão, pois a solidão pressupõe memória. Aqui, nesta paisagem inteiramente mineral iluminada por estrelas que parecem clarões, até a memória desaparece; nada resta a não ser a nossa própria respiração e o som do bater do nosso coração. Um estranho, e indubitavelmente agradável, processo de reintegração começa dentro de nós, e temos a opção de lutar contra ele, e de insistir em permanecer a pessoa que sempre fomos, ou de o deixar seguir o seu curso. Pois ninguém que haja ficado no Saara durante algum tempo é exactamente o mesmo que quando ali chegou.

 
Paul Bowles
“Baptismo de Solidão” em Viagens
Quetzal Editores, 2013

sexta-feira, janeiro 03, 2014

Uma coisa boa do ano passado


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Da orquestra, brotava, precisamente agora, o enigmático Leitmotiv: “Não perguntarás.” E parecia-me que, naquela mística sucessão de sons, naquelas duas palavras, eu decifrava a súbita revelação de uma sabedoria oculta e muito antiga. “Não perguntarás.” Não procures o fundo das coisas, ou acabarás por te afundar, também. Não busques a verdade: não a encontrarás e perder-te-ás a ti mesmo. “Não perguntarás.” A porção de verdade que te é útil é-te dada gratuitamente, e chega-te misturada com erro e mentira, mas é para teu bem, uma vez que, em estado puro, te queimaria as entranhas. Não tentes purgar a alma de mentiras, porque com elas, irão muitas outras coisas em que não pensaste, e ficarás vazio de ti mesmo, e de tudo o que tem valor para ti. “Não perguntarás.”

O Doutor Glas
Hjalmar Söderberg (2/7/1869, Estocolmo – 14/10/1941 Copenhaga)
Ed. Relógio D’Água

sexta-feira, outubro 04, 2013

Um bom naco de prosa para o fim-de-semana


“É tarde, é muito tarde, cada vez mais tarde, já nem sei se dia se noite, perco-me de mim, as horas não me repelem nem me arrastam para o sono. Acho que faz dias que não acordo. Só sonho. A carta que não te escrevo é um sonho. Um sonho de saudade e de paciência, a mesma que me ensinaste. Quando só resta esperar só resta esperar. Eu espero. Não sei se são estas palavras que te não escrevo que trazem o meu resto de vida arrastado ou o contrário. Tanto faz. Atordoado, eu permaneço aceso. Tens de ser tu a soprar a vela, como sempre fazias ao deitar.
Sopra-me.”

A ler, a ler, a ler.
(e sem acordo ortográfico)

“Que Importa a Fúria do Mar”
Ana Margarida de Carvalho
Ed. Teorema

 

terça-feira, setembro 10, 2013

Questões intemporais

“Lembras-te”, disse um dia Arvid a Markel, “lembras-te do que é que o Balzac chamava aos jornais? Ces lupanars de la pensée. Esses bordéis do mundo pensante.
“Humm”, disse Markel. “O velho demónio disse mesmo isso?”
“Disse.”
“A sério que disse “pensante”? Isso é absolutamente delicioso! Seja como for, ele era um romântico incurável”

Depois, Markel acrescentou:
“Meu caro Arvid, tu escreves sobre música, e sobre o que te der na veneta. De que te queixas? Eu tenho de lidar com todo o lixo e iniquidade e não me queixo. Faço o que posso e tento impedir que saiam disparates e cretinices, mas quando vejo que não há nada a fazer deixo passar…Tu nunca és obrigado a escrever nada que não queiras, e eu também não. Contudo, como editor adjunto, e às vezes como diretor de edição, sou obrigado a deixar passar, muito contra vontade, “falsas notícias que confundem o público”. Tu não tens de fazer isso. Tu escreves simplesmente sobre música, ou o que quer que seja, e depois vais buscar o ordenado. Portanto, de que te queixas?”

“Também não me estava a queixar” disse Arvid. “Só que não consigo deixar de pensar, sempre que recebo o salário, que sem essas “falsas notícias que confundem o público” não haveria dinheiro para me pagarem”

“Oh, meu cordeirinho inocente”, disse Markel. “Tu não és só um moralista. És um supermoralista. “Falsas notícias”. Santo Deus, as falsas notícias são inevitáveis. Uma vez mais, temos pela frente a pergunta de Pilatos: “O que é a verdade?”

 
O Jogo Sério” (1912)
Hjalmar Söderberg (1869-1941)
Ed. Relógio D’Água

sexta-feira, agosto 23, 2013

Notícias do Verão VII - O Mar

















 
 
 
Fernando Calhau - 1948/2002
Mar III A (Remake)
DVD video, DVCAM video, Mini-DVD video, Super 8 video and Mini DV video  IM9

Artista representado na exposição do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian comemorativa dos 30 anos do CAM – “Sob o Signo de Amadeo”.
Até 19 Janeiro 2014

“Avançou até um local onde a água lhe dava um pouco acima da cintura e esperou, com os braços erguidos e as mãos enclavinhadas na nuca, que os círculos na água se dissolvessem e o seu corpo de dezoito anos se refletisse na suave ondulação.
Depois mergulhou, deu algumas braçadas e pôs-se a flutuar sobre as profundezas cor de esmeralda.”

O Jogo Sério
Hjalmar Söderberg (1869-1941)
Ed: Relógio d’Água

terça-feira, agosto 20, 2013

Notícias do Verão V


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Verdade é que a qualidade desses acontecimentos era tal, que não se podia rememorá-los falando. Nem mesmo pensando com palavras. Só parando um instante e sentindo de novo.”

sexta-feira, agosto 16, 2013

Notícias do Verão III


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Era muito cedo para fazer a mala, mas prosseguiu, mesmo assim.
O nosso lar é o lugar onde têm de nos acolher, queiram ou não, disse o poeta, ou disse o pai de Marian, parafraseando o poeta, e o nosso lar é também o lugar de onde estamos sempre mortinhos por nos pôr a milhas."

Don DeLillo, “Submundo”

Imagem  daqui

quarta-feira, agosto 14, 2013

Notícias do Verão II


 
Olhou-o aflita:

- Olhe, a coisa de que eu mais gosto no mundo… eu sinto aqui dentro, assim se abrindo…Quase, quase posso dizer o que é mas não posso…
- Tente explicar, disse ele de sobrancelhas franzidas.
- É como uma coisa que vai ser…É como…
- É como?...inclinou-se ele, exigindo sério.
- É como uma vontade de respirar muito, mas também o medo…Não sei…Não sei, quase dói. É tudo…É tudo.
 
Clarice Lispector, “Perto do Coração Selvagem”

quarta-feira, maio 08, 2013

Ler













Considero-me uma razoável leitora, mas não sei quanto livros leio por ano.

Uns são grossos e outros finos, uns são fáceis e outros não, o que torna a “coisa” certamente muito variável; além do mais, a contabilidade é ramo do saber que não me entusiasma.

Uma coisa, porém, de há muito eu sabia – o meu conhecimento da literatura de Espanha é altamente deficitário.
Retirando o Vila-Matas, de quem até li duas ou três obras, o resto era um imenso buraco negro de ignorância.

Vai daí, pedi a uma amiga que me emprestasse três livros de escritores espanhóis. Ela escolheu (e, logo nessa escolha, dois terços eram catalães), e emprestou-me:
“O Prémio” de Manuel Vázquez Montalbán
“Beatus Ille” de Antonio Muñoz Molina
“A Sombra do Vento” de Carlos Ruiz Zafón

Ocorre-me dizer que pronto, está bem, tomei conhecimento.
Eles contam muitas histórias, e eu até gosto de histórias bem contadas mas aquilo, de facto, não é a minha praia.
A minha praia é, por exemplo, ao terceiro parágrafo dum livro, topar com isto:

“ A história faz-se de anseios em grande escala. Trata-se de um mero garoto com um desejo bem restrito, mas faz parte de uma multidão que não cessa de engrossar, milhares de indivíduos anónimos que emergem dos autocarros e dos comboios, pessoas em colunas estreitas que calcorreiam a ponte giratória sobre o rio e, embora não formem uma migração nem uma revolução, um vasto abalo de alma colectiva, trazem consigo o calor do corpo de uma grande cidade e os seus próprios devaneios e desesperos insignificantes, essa coisa invisível que assombra o dia – homens de chapéu de feltro e marujos de licença, o tropel caótico dos seus pensamentos, a caminho duma partida de basebol.”

Don DeLillo
Submundo
Sextante Editora

Cumprida uma daquelas obrigações que inventamos para nós mesmos sem saber porquê, congratulo-me por ali na prateleira, escolhidos por mim e à minha espera, estarem livros de Philip Roth, Paul Auster, Lawrence Durrell e E.L. Doctorow.

Benza-a Deus, que aquela é uma prateleira que carrega consigo a promessa de muitas horas felizes enquanto não acontece por aqui um vasto abalo de alma colectiva nas palavras de Don DeLillo.

 

 

 

 

terça-feira, março 12, 2013

Mel

Mel, o último romance de Ian McEwan, é uma história com muitas estórias, muita História e muitas possibilidades interpretativas. De que quis falar Ian McEwan?

De espiões e espionagem? Da Grã-Bretanha dos anos 1970? De amor, sexo, traição e ciúme? De literatura e escritores? De si mesmo?

É com todos esses temas que McEwan, como lhe é habitual, e com fleumática mestria, constrói uma narrativa que suga o leitor para dentro dela soltando-o apenas na última página.

Se Mel tem muito de autobiográfico como se afirma, não sei, mas creio que quase só pode interessar uma geração mais velha, que tenha referências suficientes para se lembrar do IRA Provisório, da semana de três dias, da crise do petróleo, das greves dos mineiros britânicos, dos terrores da guerra fria, da ressaca dos sixty e de todo um caldo de cultura que conduziu Margaret Thatcher ao poder e lá a manteve mais de dez anos. Em resumo, a geração a que pertence o autor.

Ironicamente, os medos vividos neste período, desconhecidos dos leitores mais jovens, são, em grande medida, os mesmos que nos assaltam hoje –instabilidade política com políticos fracos, crise social,  terrorismo ou o medo dele, extremismo político, greves.

Quem tenha memória não se arrependerá de ler este livro.
Tampouco se arrependerá quem, não a tendo, seja apenas amante de boa ficção.

Ed: Gradiva



terça-feira, janeiro 01, 2013

Palavras roubadas para iniciar 2013

“Fiz uma revisão do que aprendera. Tinha descoberto capacidades e forças que nunca teria imaginado possíveis, naqueles tempos quiméricos e distantes, anteriores à viagem.

Tinha redescoberto pessoas no meu passado e chegado a uma conclusão quanto aos meus sentimentos para com elas. Tinha aprendido que o amor significava desejar tudo de bom para aqueles de quem gostávamos, mesmo que isso nos excluísse a nós próprios.


Tinha entendido o que era a liberdade e a segurança e que havia necessidade de abalar os alicerces do hábito. Que para sermos livres precisamos duma vigilância constante e inflexível sobre as nossas fraquezas. Uma vigilância que requer uma energia moral que a maior parte de nós é incapaz de produzir. Acomodamo-nos aos moldes do hábito. São seguros, amarram-nos e refreiam-nos, com sacrifício da liberdade.
Quebrar esses moldes, ficar indiferente às seduções da segurança é uma luta impossível, mas uma das poucas que valem a pena.
Ser livre é aprender, pormo-nos constantemente à prova, apostar.
Não é seguro.”

Robyn Davidson
Trilhos
No deserto australiano com quatro camelos e um cão
Quetzal

Um maravilhoso livro de viagem. Se temos que viajar apenas sentados, então que seja em 1ª classe. É este o caso.