Mostrar mensagens com a etiqueta Liceu de Évora. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Liceu de Évora. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, janeiro 08, 2013

Passado e presente

Existe no Facebook uma página dos Antigos Alunos do Liceu Nacional de Évora, página que subscrevi, e Liceu que frequentei.

Não sou dada a saudosismos, nunca fui a um almoço ou jantar das comemorações do 1º Dezembro (comemoração antiga dos alunos do Liceu, de que se apropriaram, mais tarde, os alunos da Universidade) e esqueci uma enormidade de colegas – a uns conheço a cara e não sei o nome, com outros é ao contrário.
Certo é que, também graças ao FB e a esta página, reencontrei alguns com enorme satisfação.

Existem por lá polémicas, como é natural, e pontos de vista muito diferentes dentro da “agremiação”. Uns vão pelo nacional- porreirismo do somos todos amigos, vamos ver quem tem fotos, quem identifica os fotografados, e por aí.
Outros exprimem opiniões sobre alguns intervenientes no seu passado de estudantes, o que nem sempre é muito bem visto por quem tem opinião diferente, ou até não tem opinião nenhuma mas acha que nunca se devem agitar as águas.

A maioria das pessoas parece ter saudades do tempo que passou naquele magnífico edifício seiscentista, mas esse não é o meu caso.
Aquilo não foi o terror do orfanato britânico do século XIX, mas também não foi o tempo de uma adolescência livre e descuidada que todas as vidas merecem.

Havia por lá muito mais medo do que respeito.
Rapazes e raparigas estavam rigorosamente separados, e se dessem um passo fora da linha de demarcação os contínuos enxotavam-nos como a um bando de cães tinhosos, e ameaçavam com o reitor (homem tão tenebroso como salazarista). Mesmo os encontros mistos fora do Liceu eram carregados de sentimentos de culpa, porque podia haver um professor que nos visse ou um vizinho que nos denunciasse aos pais (Évora, por esse tempo, era das cidades mais machistas e retrógradas deste país).

Recordo-me ainda de, em Junho, com trinta e muitos graus de temperatura, pelas duas da tarde, esperar pelo toque de entrada, e mais dois ou três minutos depois dele, para atravessar os claustros numa correria louca, direita à sala de aula e fugindo dos contínuos, só porque não levava meias nas pernas.
A repressão espreitava em cada sala, e fora delas; valia-nos a condição de adolescentes para espantar o medo e fintar o poder.

Havia bons professores, mas também os havia péssimos; esses, geralmente, acumulavam incompetência com um enorme talento para déspotas e bufos.
Saudades, não tenho. Esse não foi o melhor tempo da minha vida, como me era devido. Esse foi um tempo que os nossos filhos têm dificuldade até de imaginar, felizmente. Pelo caminho novo que se abriu em Abril, sacudimos o medo e aprendemos a exprimir opiniões, muitas formadas logo nesse tempo de Liceu em que também fomos forjando o que somos hoje.

Entendo a página do AALNE como uma mini-sociedade em que todos se devem poder expressar livremente, sem, porém, nunca esquecer que, como dizia Bob Marley “a liberdade de expressão implica também alguma liberdade de audição”.
Era bom que ela fosse, no presente, o espaço de liberdade que o “meu” Liceu nunca foi no passado.