Se o meu pai
fosse vivo teria quase 90 anos.
Durante toda
a minha meninice, aos domingos, o meu pai pegava no meu irmão e iam os dois ao
futebol.Eu e a minha mãe ficávamos em casa, ou visitávamos a minha avó.
Só me lembro de o meu pai me ter levado ao futebol uma vez − era um jogo de futebol feminino.
Não sei se é
o jogo em si que me chateia, ou se o meu inconsciente o rejeita por o associar
aos domingos chatos da minha infância; certo é que nunca consigo ver um jogo de
futebol inteiro, mesmo que seja da selecção, mesmo que seja de arrancar o
coração, e mesmo se sou capaz de reconhecer que um bom jogo de futebol pode ser
um espectáculo tão bom com qualquer outro.
O meu pai
era, na sua essência, um homem do seu tempo, e no seu tempo as coisas eram
assim.
Como se
entretanto não tivessem passado algumas vertiginosas décadas da segunda metade
do século XX, e mais quase década e meia do século XXI, ontem topei com este texto de José Mourinho, tão mau que até dói. Escreve ele:
Claro está
que a mulher e a filha de Mourinho podem não ter paciência para ver um jogo
inteiro, como eu, mas, mesmo que seja esse o caso, o que ele escreve é todo um
programa próprio dum homem fora do seu tempo, ao contrário do meu pai.
O que
escreveu cheira a passado, à doutrina veiculada pelos textos dos livros de leitura
da escola do Estado Novo, aos ensinamentos da Mocidade Portuguesa.
Lido este
seu textozito kitsch, e não querendo
ser exagerada na adjectivação, fica-me
a sensação de que Mourinho, fora do futebol, não passará de um grandessíssimo
inconseguimento.