Corpo avantajado e passada a condizer, coberto de fato
completo “sem pregas no peito nem rugas no colarinho”, ele passa e olha
fugazmente a câmara. Não sorri, mas também não está sério, antes dá um ar de
homem sem angústias existenciais e senhor do seu (muito pequeno) mundo que, no
entanto, parece entender como o mundo todo.
Quando ele olha a câmara de relance, aquele olhar faz tocar
as minhas campainhas que alertam para “perigo”.
Ao longo dos seus 46 anos de vida, patita aqui patita ali,
foi trepando na hierarquia do poder até se instalar no lugar que achou
confortável – o lugar de toda a informação, que pode ser dada ou vendida,
conforme a ocasião e o objectivo a alcançar.
Sem a menor noção do valor do Estado numa sociedade
democrática, frio e calculista, exercitou a conjugação reflexa do verbo servir
enquanto pôde, e o mais que pôde.
Não esteve, certamente, sozinho; usufruiu de muitas
cumplicidades por parte daqueles que também almejavam o seu quinhão de poder e
dinheiro num país minado por espertalhaços que medraram nas berças e
desembarcaram na capital.
Ambicioso, venal, sem escrúpulos, este espião que veio do
quente (Moçambique), e também gosta de usar avental maçónico, personifica
exemplarmente o que de pior há em nós.