Lá na minha
terra, quando se está meio distraído, diz-se que se “está com um olho no burro
e outro no cigano”. É bem possível que isto seja um bocado xenófobo, mas deixo
ficar assim mesmo; a imagem é boa para ilustrar o modo como oiço a maior parte
dos comentadores políticos hoje em dia – “um olho no burro e outro no cigano”.
Assim estava
eu, mais uma vez, no sábado passado, enquanto Marques Mendes perorava na SIC.
De súbito,
Mendes desata a elogiar Jerónimo de Sousa com tal convicção que fui levada a
pôr, de novo, os dois olhos no burro (maneira de dizer, claro)
É que não é
o único a fazê-lo. Todos os comentadores de direita adoram o homem. Que é muito
simpático, afável, uma pessoa encantadora, obladi, obladá.
Percebo que
por detrás desta” louvaminhice” unânime está uma mal disfarçada complacência
dos doutores para com o ex-operário, e também a inabalável certeza de que o PCP
dirigido pelo simpático nunca lhes causará incómodo de monta.
Mas,
caramba, irrita-me muitíssimo que o líder do partido que representa uma grossa
fatia da esquerda portuguesa nunca, nunquinha, seja capaz, por sua vez, de irritar
a cambada.
Se não precisa
de dar ares de quem coma criancinhas, por mim também dispenso um avô fofinho e consensual
no lugar de representante máximo dos comunistas portugueses.