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segunda-feira, maio 05, 2014

Um querido


 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lá na minha terra, quando se está meio distraído, diz-se que se “está com um olho no burro e outro no cigano”. É bem possível que isto seja um bocado xenófobo, mas deixo ficar assim mesmo; a imagem é boa para ilustrar o modo como oiço a maior parte dos comentadores políticos hoje em dia – “um olho no burro e outro no cigano”.

Assim estava eu, mais uma vez, no sábado passado, enquanto Marques Mendes perorava na SIC.

De súbito, Mendes desata a elogiar Jerónimo de Sousa com tal convicção que fui levada a pôr, de novo, os dois olhos no burro (maneira de dizer, claro)

É que não é o único a fazê-lo. Todos os comentadores de direita adoram o homem. Que é muito simpático, afável, uma pessoa encantadora, obladi, obladá.

Percebo que por detrás desta” louvaminhice” unânime está uma mal disfarçada complacência dos doutores para com o ex-operário, e também a inabalável certeza de que o PCP dirigido pelo simpático nunca lhes causará incómodo de monta.

Mas, caramba, irrita-me muitíssimo que o líder do partido que representa uma grossa fatia da esquerda portuguesa nunca, nunquinha, seja capaz, por sua vez, de irritar a cambada.

Se não precisa de dar ares de quem coma criancinhas, por mim também dispenso um avô fofinho e consensual no lugar de representante máximo dos comunistas portugueses.

terça-feira, outubro 29, 2013

Do Santo Álvaro ao Tareco Jerónimo


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No Expresso online de ontem, Daniel Oliveira escreve sobre Álvaro Cunhal e a comemoração do seu centenário, dando como título ao artigo “O altar para o Santo Álvaro”. Vale a pena ler aqui.

Refere ele, a dado passo, que o PCP “vive com uma confrangedora e talvez inédita falta de quadros intelectuais… sem os quais um partido comunista dificilmente cumpre a sua função vanguardista ou pode bater-se por uma hegemonia ideológica.

É absolutamente verdade. Por isso temos hoje um PCP dirigido por Jerónimo de Sousa, com uma acção política que chega a ser patética.

Ora, essa manifesta falta de quadros intelectuais, germinou e consolidou-se durante a longa liderança de Cunhal.
Se logo após o 25 de Abril os intelectuais foram tolerados, até porque muitos tinham consumido os ossos na cadeia, aos poucos o PCP foi criando as condições para que se afastassem pelo seu pé.

Aquilo era um partido da classe operária, diziam, onde os intelectuais podiam caber, diziam também, mas apenas se aceitassem, sem estrilho nem interrogações, as orientações que o intelectual Cunhar escolhia para a dita classe operária, digo eu.

É absolutamente seguro que, depois de mortos, geralmente somos todos bons e, como escreve DO, “Cunhal passou a ser, da direita à esquerda, consensual”. Nada de novo, portanto. Está morto, está morto. Não entra na equação da nossa vida.

Porém, preocupante é que Jerónimo de Sousa seja também consensual.
Que simpático, que afável, que cordato, diz a direita em coro.
Eu, no lugar dele, ficava preocupada com tanta afectuosa unanimidade, mas ele, e o seu partido, não só não se importam como até parece que nasceram para agrada.

Como se Jerónimo tivesse tomado para si o papel de Tareco da direita, o gatinho que parece que vai estragar as cortinas mas, afinal, deixa-se apanhar e afagar. É um querido.

A nossa desgraça não consiste só em termos juntado num mesmo tempo histórico Cavaco, Passos, Portas e Seguro.
Geralmente não referimos Jerónimo de Sousa, mas ele não pode, nem deve, ficar fora deste desastrado ramalhete.

Sem negar as enormes qualidades de Álvaro Cunhal, é bom não esquecer que Jerónimo de Sousa e este PCP são herdeiros, e “filhos” legítimos, da sua liderança.