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segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Bandarilhas do nosso contentamento

Nós, portugueses, temos um estranho sentido quer de educação, quer de democracia.

Podemos não cumprimentar o vizinho, sujar o espaço público com o talão do multibanco e os dejetos do nosso cão, estacionar ocupando o lugar de três carros, não devolver chamadas telefónicas feitas, faltar aos compromissos assumidos e nem dizer água vai, soltar as crianças nos restaurantes como se estivessem no parque infantil, “atropelar” o idoso lento que vai à nossa frente, conduzir como assassinos, mas não podemos criticar ninguém, exceto os políticos.

Também não temos o hábito de louvar ninguém, exceto os jogadores de futebol.

Para nós, na maioria das vezes, crítica é sinónimo de ofensa, contundência é má-educação, da polémica fugimos como o diabo foge da cruz, e se ousássemos a antiga “bengalada” alguém ligaria para o 112.

Entendemos o democrático direito à opinião duma maneira beata, e expressar com veemência o desacordo é considerado impertinência de mau-gosto, se não mesmo injúria.

Mas isso é só o que se vê à superfície, o que gostamos de mostrar.

No fundo, continuamos a gostar de tourada, arena e sangue, mas na bancada. É de lá que gostamos de aplaudir aquelas almas simples que se dispõem a espetar as bandarilhas do nosso contentamento.

Respeitinho e dissimulação. Assim fomos moldados por 48 anos de ditadura, e assim continuamos.
Acredito que um dia passará. Mas leva tempo.

Nota: este post surge, não como resposta mas como reflexão, sobre a caixa de comentário do post abaixo

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

O escritor e o blogger, J. Rentes de Carvalho

Acabei de ler, com agrado, “Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia”, livro de contos de J. Rentes de Carvalho. Não sendo, no meu pobre entender, grande literatura, é, contudo, um livro cheio de narrativas limpas, escorreitas, com apurada sensibilidade e sentido de humor.

O autor, que vive em Amesterdão, tem um blogue – TEMPO CONTADO, onde no dia 1 de Fevereiro escreveu isto:

Estamos de parabéns. É admirável como há portugueses que, com aflições de sobra, de pouco tempo dispondo entre o futebol, a televisão e o café, arranjem oportunidade para, ferrenhos, erguendo o punho, brandindo a Moral, se mostrarem solidários com a Grécia.
É um exemplo que nos dignifica, uma atitude enérgica, muito capaz de levar a que a Alemanha reconsidere a teimosia de não satisfazer o calote.

Palavras cínicas, e até ofensivas, dum homem já entradote na idade.

Primeiro, alvitra que os seus compatriotas mais não são do que consumidores de futebol, televisão e café, isto é, não trabalham.
De seguida, mostra que o seu tempo está mesmo muito contado porque não usa nenhum dele para se informar sobre as causas da dívida grega ou a maneira como a união monetária foi construída à medida dos interesses germânicos.

Homem público com pretensões a intelectual não pode limitar-se a emprenhar de ouvido o que se diz lá no paraíso fiscal em que vive – a Holanda, e isso de escrever o que nos dá na real gana é bom para mim e para os meus colegas bloggers sem nome na praça nem livros no escaparate.

J. Rentes de Carvalho, se não quer perder o seu contado tempo com as toneladas de informação disponível, podia, ao menos, ler o seu colega Manuel António Pina

Resumindo: o livro “Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia” recomenda-se, mas o blogue de J. Rentes de Carvalho – TEMPO CONTADO – esse, eu vou evitar, para não contaminar a imagem que criei do escritor.
Se é que ainda vou a tempo.