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quinta-feira, novembro 27, 2014

A mim chateiam-me, pá!




Gosto da diversidade, mas detesto os que têm que ser sempre diferentes.

Gosto da crítica, mas detesto que ela me apareça (mal) embrulhada em pensamento filosófico.

Gosto de alguma ambição, mas detesto ambiciosos que gostam tanto de subir como de puxar tudo o resto para baixo.

Hoje, o “cante” alentejano foi classificado (e não “elevado”, como dizem os ignorantes) como património imaterial da humanidade.

Eu alegrei-me, sou alentejana, mas também me alegrei quando foi a vez do Douro, ou de Sintra, ou de Angra e, sobretudo, de Évora.

Neste tempo tão desclassificado que vivemos, como escreveu o Daniel Oliveira, “continua a ser a cultura, essa inutilidade, a dar-nos quase todas as boas noticias”.

Classificar (pela Unesco) ajuda a divulgar, preservar, manter vivo.

E não é que, no entrementes, encontrei um intelectual que tem dificuldade em compreender isto, e que se perturba tentando entender o entusiasmo geral?

Ora bolas pr’ó intelectual!

Todos estão no seu direito de ficarem indiferentes, ou até de estarem contra, mas vir, num dia como o de hoje, questionar o unanimismo da alegria do povoléu, é de quem precisa, à força toda, de se pôr em bicos de pés.

Dizem que o país precisa de todos. Talvez, mas a mim chateiam-me, pá!

terça-feira, outubro 29, 2013

Do Santo Álvaro ao Tareco Jerónimo


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No Expresso online de ontem, Daniel Oliveira escreve sobre Álvaro Cunhal e a comemoração do seu centenário, dando como título ao artigo “O altar para o Santo Álvaro”. Vale a pena ler aqui.

Refere ele, a dado passo, que o PCP “vive com uma confrangedora e talvez inédita falta de quadros intelectuais… sem os quais um partido comunista dificilmente cumpre a sua função vanguardista ou pode bater-se por uma hegemonia ideológica.

É absolutamente verdade. Por isso temos hoje um PCP dirigido por Jerónimo de Sousa, com uma acção política que chega a ser patética.

Ora, essa manifesta falta de quadros intelectuais, germinou e consolidou-se durante a longa liderança de Cunhal.
Se logo após o 25 de Abril os intelectuais foram tolerados, até porque muitos tinham consumido os ossos na cadeia, aos poucos o PCP foi criando as condições para que se afastassem pelo seu pé.

Aquilo era um partido da classe operária, diziam, onde os intelectuais podiam caber, diziam também, mas apenas se aceitassem, sem estrilho nem interrogações, as orientações que o intelectual Cunhar escolhia para a dita classe operária, digo eu.

É absolutamente seguro que, depois de mortos, geralmente somos todos bons e, como escreve DO, “Cunhal passou a ser, da direita à esquerda, consensual”. Nada de novo, portanto. Está morto, está morto. Não entra na equação da nossa vida.

Porém, preocupante é que Jerónimo de Sousa seja também consensual.
Que simpático, que afável, que cordato, diz a direita em coro.
Eu, no lugar dele, ficava preocupada com tanta afectuosa unanimidade, mas ele, e o seu partido, não só não se importam como até parece que nasceram para agrada.

Como se Jerónimo tivesse tomado para si o papel de Tareco da direita, o gatinho que parece que vai estragar as cortinas mas, afinal, deixa-se apanhar e afagar. É um querido.

A nossa desgraça não consiste só em termos juntado num mesmo tempo histórico Cavaco, Passos, Portas e Seguro.
Geralmente não referimos Jerónimo de Sousa, mas ele não pode, nem deve, ficar fora deste desastrado ramalhete.

Sem negar as enormes qualidades de Álvaro Cunhal, é bom não esquecer que Jerónimo de Sousa e este PCP são herdeiros, e “filhos” legítimos, da sua liderança.

terça-feira, janeiro 29, 2013

De intelectual a bem-pensante


Tempos houve em que os intelectuais eram interventivos em termos políticos e sociais, sendo não apenas respeitados mas considerados elementos fundamentais duma sociedade livre, progressiva e culta.

Nas últimas décadas, o paradigma mudou, e os intelectuais foram-se, aos poucos, resguardando nos seus gabinetes de universidade, a ponto de quase não darmos por eles no nosso quotidiano.

Simultaneamente, a cultura rasca da mediocridade foi invadindo toda a sociedade, qual selva tropical depois do aguaceiro.

Chegámos então ao ponto de os intelectuais passarem a ser apelidados de “bem-pensantes”, com o todo o desdém invejoso e alarve que o termo comporta.

Do que tenho conseguido perceber, os “bem-pensantes” são um grupo altamente minoritário, que se dedica sobretudo às diversas áreas culturais; sobre elas aprofundaram estudos e reflexões, capazes de lhes permitirem um olhar crítico que lhes advém da capacidade de interligarem conhecimentos.

É natural que estas pessoas tenham gostos diferentes das chamadas “massas”, mas é prudente que não os expressem, sob pena de verem agrafado no seu traseiro o rótulo de “bem-pensante”, ou seja, extravagante, convencido, snobe e, em última análise, perigoso.

É assim que é visto o intelectual no terceiro milénio; não admira que fuja – a sanha das massas embrutecidas assusta mesmo.

Felizmente para eles, as massas andam entretidas a colocar nos tops de vendas todas as possíveis sombras da Grey bem como o vibrante “Basta” de Camilo Lourenço; por isso nem repararam na notícia - “Grupo de intelectuais pede união para evitar morte da Europa”, entre os quais se inclui o escritor português António Lobo Antunes, e poucos dão pela falta da coluna de António Guerreiro no Expresso.

Afinal, são apenas “bem-pensantes”. Pfff.