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terça-feira, setembro 10, 2013

Questões intemporais

“Lembras-te”, disse um dia Arvid a Markel, “lembras-te do que é que o Balzac chamava aos jornais? Ces lupanars de la pensée. Esses bordéis do mundo pensante.
“Humm”, disse Markel. “O velho demónio disse mesmo isso?”
“Disse.”
“A sério que disse “pensante”? Isso é absolutamente delicioso! Seja como for, ele era um romântico incurável”

Depois, Markel acrescentou:
“Meu caro Arvid, tu escreves sobre música, e sobre o que te der na veneta. De que te queixas? Eu tenho de lidar com todo o lixo e iniquidade e não me queixo. Faço o que posso e tento impedir que saiam disparates e cretinices, mas quando vejo que não há nada a fazer deixo passar…Tu nunca és obrigado a escrever nada que não queiras, e eu também não. Contudo, como editor adjunto, e às vezes como diretor de edição, sou obrigado a deixar passar, muito contra vontade, “falsas notícias que confundem o público”. Tu não tens de fazer isso. Tu escreves simplesmente sobre música, ou o que quer que seja, e depois vais buscar o ordenado. Portanto, de que te queixas?”

“Também não me estava a queixar” disse Arvid. “Só que não consigo deixar de pensar, sempre que recebo o salário, que sem essas “falsas notícias que confundem o público” não haveria dinheiro para me pagarem”

“Oh, meu cordeirinho inocente”, disse Markel. “Tu não és só um moralista. És um supermoralista. “Falsas notícias”. Santo Deus, as falsas notícias são inevitáveis. Uma vez mais, temos pela frente a pergunta de Pilatos: “O que é a verdade?”

 
O Jogo Sério” (1912)
Hjalmar Söderberg (1869-1941)
Ed. Relógio D’Água