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segunda-feira, janeiro 23, 2012

Vacas sagradas, não tenho

Os meus amigos comunistas que me desculpem mas, para mim, o PCP não é, como é para eles, uma vaca sagrada.
Aliás, não tenho vacas sagradas, porque não sou crente nem indiana.
Dou-lhes, porém, todo o direito de não gostarem daquilo que escrevo e penso, esperando que me deem também o direito de continuar a pensar e a escrever livremente.

E o facto é que o PCP deixa-me, frequentemente, como é que hei-de dizer, talvez perplexa ou consternada.

Só para falar dos últimos dias, por exemplo, fiquei, vá lá, perplexa com o envio de votos de pesar ao povo da Coreia do Norte pela morte dum tirano não eleito, que o mata à fome, e que se dizia comunista.
Fiquei também, vá lá, consternada, por logo de seguida ter votado contra um simples voto de pesar pela morte de Vacklav Havel. É que nem uma abstençãozinha, foi logo contra. Deduzo que para o PCP o homem já devia ter morrido há muito tempo, com o raio que o parta.

Também, vá lá, me deixa perplexa e consternada, que o PCP entenda sempre que o que não é de sua iniciativa não presta. No caso recente do pedido de fiscalização sucessiva do OE, o PCP nem sequer teria deputados suficientes para o fazer sozinho, pelo que, demarcando-se da iniciativa a pretexto de minudências textuais, acabou por, objetivamente, facilitar a passeata triunfal do governo no seu ataque a tudo o que mexe e trabalha.

Duvido que seja isso que os eleitores do PCP pretendem quando nele votam. É que, para o povaréu votante que sofre na pele as bacoradas dos políticos, são mais as coisas que nos unem do que aquelas que nos separam.

Estou tão farta de ouvir as esquerdas a gritar “a minha via é melhor que a tua” como de ouvir os crentes a dizer “o meu Deus é melhor que o teu”.
Se calha é por isso que continuo sem via e sem fé.
Mas cá me aguento. Parece que há mais vida para além das vias. E da fé.
E da fé nas vias. E das vias de fé.

Nota: imagem de uma escultura (múltiplo) do escultor Jorge Vieira.