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terça-feira, abril 01, 2014

O livro, a leitura, os escravos de ontem e de hoje












 
 
 
 
 
 
 
Uma criança pergunta ao seu avô:
- Porque começas todas as histórias por “era uma vez”?
- Para ter a certeza – disse o avô – de não me enganar nas datas.
(Recolhido por Jean-Claude Carrière)

 
1. Era uma vez, pois bem.

Em alguns países, em tempos não muito antigos, entre os castigos mais violentos estava este: quando algum escravo era apanhado a aprender a ler, era chicoteado dezenas de vezes. Um castigo muitíssimo severo. Ler era mais grave do que roubar.

Começar a ler era como começar a preparara a fuga. Começar a preparar a vontade de fuga, a necessidade de fuga. Eis o mais perigoso. Aprender a ler era como treinar os músculos da perna da fuga ou como treinar a disparar a arma que ameaçará o dono.

Eis, pois, o perigo – o livro. Objecto que era sempre colocado longe dos escravos (como se fosse uma arma, precisamente).

Aprender a ler era para levar a sério, era uma forma de contestação. Não era uma atividade de crianças. Era uma atividade que anunciava um homem forte.
Era, pois, para começar, uma possível definição de livro: um objecto que tem a potência de libertar da escravidão.

Gonçalo M. Tavares
Catálogo da exposição “Tarefas Infinitas”, FCG, 1012

 
Notícia dos modernos escravos que não quiseram aprender a ler:

"Em Marselha, Stéphane Ravier da Frente Nacional, foi eleito com votos de magrebinos, a população desprezada pela Frente Nacional."
Público, 31 Março 2014

 
Imagem: peça de Fernanda Fragateiro (1962), Estante e colecção de livros de autores que se suicidaram, 2000, exposta na mesma exposição “Tarefas Infinitas”, FCG, 1012