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terça-feira, abril 02, 2013

O mundo ao contrário


Faz hoje 30 anos, no Hospital de Évora, nasceram várias crianças. Não sei quantas foram, mas sei que começaram a nascer cedinho e continuaram pelo dia fora.

Uma dessas crianças era minha.

Estivemos lá cinco dias, como era prática nesse tempo, e, apesar de ser Páscoa, não nos faltou nada; nem médicos, nem cuidados de enfermagem, nem fraldas, nem medicamentos, nem vacinas, nem o teste do pezinho. À saída, também não pagámos nem um tostão.

Daí para a frente, o SNS sempre nos acolheu quando precisámos, a escola e universidade públicas também ensinaram a criança feita menino, depois adolescente e, finalmente, homem.

Há trinta anos éramos um país pobre e atrasado, o 25 de Abril estava a fazer apenas nove anos, o FMI andava por cá tal como agora anda a troika, mas as crianças continuavam a nascer.

E o Estado nunca deixou de cumprir as suas obrigações.

Saímos dessa crise e de outras; por várias vezes prosperámos.

A crise que agora vivemos, apesar de violenta, encontrou à chegada um país inegavelmente diferente do de 1983; um país que entretanto evoluiu, se modernizou e ficou, literalmente, mais rico.

Porém, é agora que nos vêm dizer que não há dinheiro para o SNS ou que é preciso pagar e degradar a escola pública.

E é também agora que as crianças não nascem.
É o fim da linha e dá vertigens − é o mundo ao contrário.


terça-feira, outubro 30, 2012

A superfície das coisas

Na sua crónica no Expresso de 27 de Outubro, Clara Ferreira Alves traça o perfil dum subgrupo de jovens portugueses, que, no poder ou perto dele, está a querer destruir tudo o que é público sem nunca ter posto os pés na escola pública, por exemplo; serão possuidores dum MBA caro, feito com o dinheiro dos pais, e profundos desconhecedores da realidade que querem destruir.
Chama-lhes, “senhoritos dos mestrado de luxo”.

Joana Lopes pega nesse artigo e escreve o post “Os nossos jovens felizes”. Refere que os vê à hora de almoço, “bem trajados” (suponho que seja de fato e gravata) e que, ouvindo-os, se percebe que a crise lhes passa ao lado.

Sim, não o nego, o subgrupo existe, e está por aí bastante activo.

Porém, há no tom usado, sobretudo por CFA, um perfume a desdém pelos mestrados e MBA, como se isso fosse sinónimo de cabeça oca e neoloberalismo de pacotilha.

Não é, e, pessoalmente, estou convencida que muitos dos jovens referidos foram alunos medíocres, em escolas tanto públicas como privadas, e não fizeram nenhum mestrado ou MBA − nem de luxo nem pelintra.

Os seus percursos académicos são mais do tipo Passos e Relvas.

Por outro lado, se quisermos ter um olhar um pouco mais abrangente, poderemos encontrar jovens, desses “bem trajados”, que estudaram na escola pública da pré-primária ao último ano da universidade, arranjaram trabalho quando a coisa estava ainda um pouco menos difícil, e fizeram a sua própria poupança para com ela fazerem o tal MBA caro.

Eles também existem, e até os vi no 15 de Setembro, de jeans e t shirt, batendo furiosamente tachos e panelas enquanto gritavam as mesmas palavras de ordem que os desempregados.

No reverso da medalha, não os conhecendo, sei que há muitos “alternativos” com um pensamento neonazi.

Bem ou mal trajados, com ou sem MBA, há de tudo, como na farmácia.
A superfície das coisas é que é muito enganadora.