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quinta-feira, novembro 29, 2012

O pecado do gasto improdutivo


O que António Guerreiro escreve no Atual do Expresso é, para mim, de leitura obrigatória, e com grande prazer.

No passado sábado, escreveu sobre a moderna e perigosa “mania” de se dizer o preço de tudo, o que conduz a que se considere ” intolerável o que faz parte de uma economia não produtiva”. Referindo a teoria de Mauss, e simplificando eu o que ele escreve, assinala que não é possível uma sociedade sem a “festa”, mas o discurso político atual exclui-a liminarmente.

Deve ser esse facto o grande responsável pela mesquinhez e miopia que tomou de assalto os portugueses, levando-os a tudo considerarem má despesa pública.

Fico boquiaberta com o interesse que as pessoas têm pelo cardápio do restaurante da Assembleia da República, pelo café que as Câmaras compram e pela rápida quantificação dos gastos com as iluminações de Natal, por exemplo, tudo envolto num diáfano manto de censura moralista.

Estou cansada do desastre político bordado de mesquinhez cívica, e acredito que “não é possível uma sociedade sem o elemento heterogéneo, o gasto improdutivo, que transgride a homogeneidade da lógica da produção”, segundo a teoria do dom de Mauss, e segundo António Guerreiro.

Por mim, mesmo que ela não caiba no “elemento heterogéneo”, sinto absoluta saudade da alegria tout court.