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quarta-feira, setembro 30, 2015

Vou andando












 








Vou pôr-me a caminho da minha assembleia de voto.

Vou expectante, mortinha por saber, finalmente, o que resolvem os portugueses depois destes quatro anos em que foram tratados abaixo de cão.

Pessoalmente, e em termos políticos, vivi quatro anos e meio de indignação, às vezes repulsa, às vezes medo, muito azedume, e náusea persistente.

No domingo, será encerrado este ciclo; ou não, porque, usando uma boa lapalissada, direi que ou o governo ganha, ou o governo perde.

Ingénua, talvez, ainda acredito que, ao contrário do que as sondagens nos querem fazer crer, os portugueses talvez não tenham gostado assim tanto de ser sodomizados à bruta.

Por isso, ponho as minhas fichas na derrota da coligação. PaFfffffffff!

A ser assim, e se o PS ganhar, espero que não tenha maioria absoluta, e que seja obrigado a negociar. Depois de Sócrates, passei a achar que a maioria absoluta é um mal absoluto.

Porém, no caso de o absurdo se concretizar, isto é, caso a coligação vença, por convicção ou falta de comparência dos cidadãos, a minha decisão está tomada: vou virar-me do avesso.

Não terei mais angústias com o desmantelar da escola pública, do Serviço Nacional de Saúde, da Segurança Social e dos apoios aos mais pobres. Não me preocuparei mais com a Justiça e as suas descaradas injustiças, os negócios e as negociatas, a emigração, a precariedade, as desigualdades, a mão-de-obra barata, as senhoras e senhores da assistência.

Pedro, Paulo, seus mentores e seguidores, aproveitarão para concluir a enorme transformação do país que já encetaram, e a mim nada me resta se não admitir que, às vezes, é preciso deixar que se “albarde o burro à vontade do dono”.

Se o voto dos portugueses apontar claramente para uma preferência pelos colégios privados, os seguros de saúde, os fundos de pensões privados, os pobrezinhos mas honestos, a caridade, o assistencialismo, as remessas de francos suíços e o tratamento ao pontapé, eu terei votado vencida.
Mas não há drama.

Fiz um muito pessoal ponto da situação e constatei que: eu já estou mais para lá do que para cá, os meus filhos já se foram embora, netos não tenho (mas se os vier a ter, talvez sejam noruegueses, ou suíços, ou japoneses, sei lá). Então, por que raio deveria continuar a sofrer, querendo preservar para o futuro o que a maioria de nós quer deitar pela borda fora?
Nááá, não o farei.

Quererá isto dizer que passei de resistente a desistente? Não será bonito, mas é bem possível, admito.

Se o PS ganhar, como espero e desejo, fico contente por uma noite, e depois recomeça a porrada, porque sei que o fundamental não mudará. Mas, ao menos, mudam as moscas, e chegámos tão fundo que com isso já me alegro.

Não votarei útil. Porque não quero, mas, diga-se em abono da verdade, e feitas as contas, também não é preciso.

E fico mesmo piursa quando me dizem que, sendo de esquerda, se não votar PS estou a desperdiçar o voto. (Que me lembre, o autor desta “descoberta”, Manuel Alegre, não considerou um desperdício os votos da esquerda nele próprio quando se candidatou e perdeu).

Para a pata que os pôs mais a democracia deles.

O meu voto não é uma “utilidade”. É um direito e um dever, qualquer coisa mais do domínio do imaterial. Viver de “utilidades” é uma grande chatice. E cansa.

Cansada também, confesso, estou das guerras entre bolchebiques, mencheviques, do renegado Kautsky, do renegado Trotsky, e do mais que já esqueci.

No domingo, votarei no programa e nas pessoas em que me apetece votar, mas não vou revelar quais são por três razões fundamentais:

- apesar de, nas redes sociais, ser tudo às escâncaras, este atávico secretismo sobre o voto dá-me frisson.

- o sentido do meu voto não interessa nem ao Menino Jesus.

- não tenho seguidores e não espero convencer ninguém, e também não vou matar a curiosidade aos curiosos.

No meio de tanta incerteza no domingo, votarei, como sempre, com uma enorme alegria e um desmedido sentimento de gratidão − pelos Capitães de Abril, pois claro.

 
PS: este blogue termina aqui.

Durou, de modo desigual, desde antes da queda de Sócrates, até às novas eleições quatro anos e meio depois − os anos de chumbo.

Não o vou encerrar porque me parece de todo desnecessário − uma vez na internet, sempre na internet, dizem.

A quem por aqui me visitou, o meu obrigada. Aos outros bloggers que, por causa deste, conheci, reitero que foi um prazer.

Para todos, bom domingo, boas escolhas, dias felizes e até à vista.
Vou andando.