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quinta-feira, abril 05, 2012

A fulanização de ideias e causas

Na semana passada, circulava no FacebooK a verdadeira caça ao polícia, o tal que andou pelo Chiado à bastonada. Critiquei a atitude aqui. Segundo notícia de ontem, o MAI decidiu abrir um processo disciplinar ao referido agente da PSP, e é assim que deve ser.
Agora, a propósito da vinda ao Coliseu do repelente rapper Sizzla, que incita o público a matar homossexuais, pergunta-se se alguém sabe quem é o dono do Coliseu.
Há na pergunta uma velada ameaça, como quem diz – “vamos-te fazer a cama, porque contratas um tipo execrável, de quem não gostamos”.

Se, na política, há evidentes sinais de deterioração da democracia, na sociedade civil não há menos.

Acho normal um movimento de repúdio pela contratação de tal personagem, e também acho normal que declaremos alto e bom som que, para nós, alguns visitantes não são bem-vindos.
Porém, já não acho nada normal, ao contrário, acho preocupante, que se fulanizem assim ideias políticas e causas. E isto está a ficar demasiado frequente.

Tenho o direito de dizer que, para mim, Sizzla não é bem-vindo, e que não gosto mesmo nada dum empresário voraz que o contrata mas, é tudo; aí acabam os meus direitos.
Pode argumentar-se que tudo não passa de brincadeira ou leviandade de espíritos “revolucionários”, mas continuo a achar que, mesmo nesse caso, são coisas que passam pela cabeça das pessoas, são sinais, e de muito mau gosto.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Por aqui, alegremente, vamos


Ouvi hoje na Antena 1, que um grupo de empresas americanas se juntou e decidiu fazer, julgo que apenas aos candidatos a emprego, mas não tenho a certeza, análises de sangue, urina e saliva para detetar vestígios de nicotina.
Fumador não entra, porque fumar diminui a produtividade, dadas a interrupções para matar o abominável vício.
Igualmente ouvi que, em Espanha, se uma qualquer Pilar contratar uma qualquer Cármen para trabalhar lá em casa, a Pilar não poderá fumar em sua casa. Já tinha ouvido que, também em Espanha, vai ser proibido fumar em ruas ou parques perto de instituições de saúde ou de ensino, ou em parques infantis ao ar livre.
Não deve dar para rir, mesmo aos não fumadores, porque é demasiado perigoso.
Aceito, pacificamente, que ninguém deve fumar os cigarros dos outros, mas, aqui, o caso é outro. É fácil dizer que há uma paranoia antitabaco, e é verdade, mas a coisa vai muito para além da simples paranoia.
Os empregadores americanos alegam, para além das quebras de produtividade, com as despesas de saúde pagas pelos seguros que são obrigados a fazer para os seus empregados (perdão, para os seus colaboradores, visto que empregados já não há, e trabalhadores muito menos). Ou seja, as empresas americanas cada vez olham mais para os homens e mulheres que lá trabalham como pequenas peças da engrenagem de ganhar dinheiro, com poucos custos e muito lucro. Já não são pessoas, valem tanto como uma broca ou um parafuso. Não podem ter defeito ou partir, porque lá se vai a produtividade e, com ela, o maior lucro.
Que para isso se mandem às malvas as liberdades individuais, que os americanos tanto prezam, não importa.
Os nossos vizinhos espanhóis estão também alucinados. O legislador lá não fuma, toma LSD. A Cármen tem todo o direito de não querer trabalhar em casa de fumadores, mas usando da sua liberdade, poderia perguntar “ a dona fuma?” antes de aceitar o trabalho. A Cármen não precisa perguntar, porque a Pilar precisa de saber que está proibida de fumar na sua casa enquanto a Cármen lá estiver, seja esta fumadora, ou não.
Os Estados desistiram de controlar o que deviam – mercados, banca, bolsa, negócios financeiros esdrúxulos, e dedicaram-se a regulamentar toda a nossa vida privada.
Em Portugal, o sal do pão já tem dose certa; em breve será o açúcar nos bolos, a gordura nos queijos e por aí fora.
Na América, por agora, não se pode ser fumador mas, em breve, não se poderá ser gordo, diabético, míope ou ter uma unha encravada, para não dar gastos às seguradoras nem diminuir a produtividade. E o Estado vai estar de acordo, porque as seguradoras podem muito.
As nossas liberdades individuais, que pareciam conquistas irreversíveis da civilização ocidental, estão, com mais ou menos alarido, a serem-nos confiscadas, sob o disfarce de ser tudo para o nosso “bem”.
Ora, era bom que todos nós, fumadores e não fumadores, gordos e magros, doentes e saudáveis, tomássemos consciência desta coisa nova e terrível que nos está a acontecer.