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quarta-feira, março 14, 2012

Silêncio

Há dias, passou na RTP2 um filme com o nome “O meu amigo Michael ao trabalho”. Tratava-se de acompanhar a realização duma enorme tela de
Michael Biberstein, artista nascido na Suíça mas que vive em Portugal desde o final da década 1970.

Quando Michael entrava de manhã no ateliê sentava-se longamente diante da tela e observava o trabalho já feito.
O grande silêncio, a grande solidão do artista.
Do seu trabalho resultam telas que nos convidam também ao silêncio e onde, se nelas nos detivermos, podemos encontrar o sublime.

No Atual do Expresso de 3 de Março, Siza Vieira dizia:
"o nada, o aparente nada, às vezes é o mais importante, mas existe uma doença contemporânea muito grave que é o horror ao vazio.
O vazio, tal como o silêncio, provoca medo. Isso é algo de muito contemporâneo".

Rodeados que estamos de ruído visual e auditivo, escolhemos demasiadas vezes a fuga para a frente, para dentro dele, na esperança vã de fugir à grande solidão que a sociedade contemporânea toma por um grande mal, se não mesmo como um sinal de desadaptação.

Porém, a solidão, o vazio e o silêncio são as vias para a criação, o conhecimento de si, as descobertas, e o apaziguamento face a uma realidade cada vez mais dura.
Não se pode fugir do real, mas a forma como o encaramos e nos encaramos (e aos outros por arrasto) pode constituir mudança significativa.

Encontrar momentos de fuga do ruído, de todos os ruídos, ouvir o silêncio, morder o vazio, viver a solidão, continuam a ser actos decisivos e fundadores da nossa vivência para além dos ossos, dos músculos e das vísceras.
Seja isso o que for; a cada um, sua verdade. Ou dúvida.

Nota: na imagem, foto de tela de Michael Biberstein