António
Costa é, finalmente, secretário-geral do PS.
Não foi
pequena a caminhada, e respectiva dose de esforço, que António José Seguro lhe
impôs para aqui chegar − quase meio ano nos separa das europeias que
desencadearam o processo que ontem terminou.
Os termos
ditados por Seguro foram à sua medida – grandiosos nos tempos, mesquinhos nos
objetivos. Costa aceitou prazos absurdos, percorreu concelhias e distritais,
debateu na televisão e encaixou ataques pessoais de baixo nível, mobilizou
militantes e simpatizantes para as primárias que ganhou “sem espinhas”.
Depois,
julgo que houve directas e, a uma semana do congresso, cai-lhe no colo a pior
notícia possível − a prisão de José Sócrates. Se estremeceu, não demos por nada,
antes aproveitou a situação para dar provas de grande acuidade política e capacidade
de liderança.
Por fim,
agarrou um congresso que ameaçava decorrer com o entusiasmo dum velório.
O seu discurso de encerramento mostrou um
líder forte a fazer uma inusitada viragem à esquerda.
Por uma (boa
e inesperada) vez, foi um discurso que alguém como eu gosta de ouvir. Aguardemos
então pela acção, que é o que, verdadeiramente, conta.
Em breve
António Costa começará o circuito da carne assada, fazendo duas voltas ao país,
enxotando o fantasma de Sócrates, que quererá assombrá-lo ao virar de cada
esquina, e tentando passar uma mensagem que agrade à esquerda sem assustar o
centro.
Habituado
que está à “Quadratura do Círculo”, talvez consiga.
Se se fizer
eleger primeiro-ministro, terá passado um ano e meio de grandes trabalhos.
Simpatizo
sempre com gente que luta por objectivos no meio das muitas dificuldades que
lhe vão sendo plantadas no caminho.
Hoje,
António Costa merece o meu respeito.
Até agora, nesta
caminhada, nada para ele foi fácil.