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terça-feira, julho 29, 2014

Clara e João, combate de galácticos










 
 
 
 
 
 
 
A entrevista de Clara Ferreira Alves a João Magueijo, na Revista do Expresso de sábado passado, não é bem uma entrevista.

Quando se chega ao fim, percebe-se que aquilo não passa duma batalha verbal entre dois cabotinos.

Ela exibe-se formulando perguntas, que mais parecem orações de sapiência, em que consegue introduzir termos e nomes que todos os leitores do Expresso usam quando vão ao mercado comprar sardinhas. Por exemplo, Margate, englishness, understatement, Hawking (é uma obsessão), D. Afonso da Maia, stasis. E ainda encontra espaço para dizer que tem um aluno de doutoramento que é muçulmano.

Ele vai respondendo com merda, caralho, foda-se ou cu, q.b.

A dado passo, abandonando fugazmente a ciência e o vernáculo, Clara pergunta − “o que lê quando está triste?”. Logo ali me pareceu  que a pergunta estava quase, quase, ao nível da mais famosa pergunta da televisão portuguesa – “o que dizem os seus olhos?”, mas para melhor, claro.

Abreviando, e para quem não teve oportunidade de ler a entrevista, transcrevo uma pergunta/afirmação, e respectiva resposta, que resumem magistralmente o tom e conteúdo deste trabalho jornalístico:

 - Vamos falar de Hadron Collider. (diz ela)
 - Foda-se! (responde ele)

Um pouco de understatement até nem calhava aqui mal, pois não?!

Melhor calharia ainda sermos poupados a seis páginas de pornográfico exibicionismo de dois egos que se julgam a encarnação única da própria partícula de Deus.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Os extravagantes caprichos da pluma







 
 
 
Eu sou fã de Clara Ferreira Alves.
Ela tem lá os seus defeitos, que serão muitos, certamente, e eu tenho os meus, que não serão menos.
Mas ela sabe escrever. E sabe pensar.

Porém, nas últimas semanas tem-me deixado preocupada.

Há quinze dias escreveu sobre “O tal 1%” que é dono do mundo, sendo que o próprio mundo o não conhece.
Quando cheguei ao fim da página, achei que a única coisa sensata a fazer era ir à cozinha cortar os pulsos com a faca do pão.

Se o quadro é deveras negro, a CFA pintou-o de luto carregado, qual viúva disposta a nunca mais “refazer a sua vida”; sem futuro, portanto. Tudo morto.
Já de faca na mão, lembrei-me que o futuro não é meu, nem dela – é das gerações mais novas, e serão elas a escolher o rosto do tempo por vir.
Acabei por não cortar os pulsos, como é público e notório.

Esta semana, a cronista resolve entoar loas ao casal Eanes.

É lá com ela, se lhe apetece entrar no coro dos que já acham que fazer os mínimos é o mesmo que ganhar a medalha de ouro (falo dessa coisa simples que é continuar a ser honesto mesmo estando na política).

O incompreensível nesta crónica, é que a Clara, duma penada, e à boa maneira estalinista − que não lhe assenta nada bem, apaga do currículo do general a criação, e o seu total envolvimento, com PRD (Partido Renovador Democrático).

É certo que ele pouco deu a cara pelo partido, mas, por acaso, isso foi bonito? Ou meritório? Ou deve ser esquecido?

Perguntas que não interessam a ninguém.
Nem à Clara Ferreira Alves, que até se costumava interessar.

terça-feira, outubro 30, 2012

A superfície das coisas

Na sua crónica no Expresso de 27 de Outubro, Clara Ferreira Alves traça o perfil dum subgrupo de jovens portugueses, que, no poder ou perto dele, está a querer destruir tudo o que é público sem nunca ter posto os pés na escola pública, por exemplo; serão possuidores dum MBA caro, feito com o dinheiro dos pais, e profundos desconhecedores da realidade que querem destruir.
Chama-lhes, “senhoritos dos mestrado de luxo”.

Joana Lopes pega nesse artigo e escreve o post “Os nossos jovens felizes”. Refere que os vê à hora de almoço, “bem trajados” (suponho que seja de fato e gravata) e que, ouvindo-os, se percebe que a crise lhes passa ao lado.

Sim, não o nego, o subgrupo existe, e está por aí bastante activo.

Porém, há no tom usado, sobretudo por CFA, um perfume a desdém pelos mestrados e MBA, como se isso fosse sinónimo de cabeça oca e neoloberalismo de pacotilha.

Não é, e, pessoalmente, estou convencida que muitos dos jovens referidos foram alunos medíocres, em escolas tanto públicas como privadas, e não fizeram nenhum mestrado ou MBA − nem de luxo nem pelintra.

Os seus percursos académicos são mais do tipo Passos e Relvas.

Por outro lado, se quisermos ter um olhar um pouco mais abrangente, poderemos encontrar jovens, desses “bem trajados”, que estudaram na escola pública da pré-primária ao último ano da universidade, arranjaram trabalho quando a coisa estava ainda um pouco menos difícil, e fizeram a sua própria poupança para com ela fazerem o tal MBA caro.

Eles também existem, e até os vi no 15 de Setembro, de jeans e t shirt, batendo furiosamente tachos e panelas enquanto gritavam as mesmas palavras de ordem que os desempregados.

No reverso da medalha, não os conhecendo, sei que há muitos “alternativos” com um pensamento neonazi.

Bem ou mal trajados, com ou sem MBA, há de tudo, como na farmácia.
A superfície das coisas é que é muito enganadora.

 

quarta-feira, abril 20, 2011

A zanga de Clara Ferreira Alves

Uma declaração de interesses inicial: Clara Ferreira Alves integra o muito restrito grupo de jornalistas portugueses por quem tenho verdadeiro respeito e admiração. Sempre leio com prazer as suas crónicas informadas, pensadas, bem escritas, às vezes com um humor mordaz, embora nem sempre estejamos de acordo, como é normal. A sua coerência, seriedade e capacidade de análise fazem dela um nome de topo do jornalismo português, por isso mesmo alvo fácil de invejas e ressentimentos, a que acresce o enorme “pecado” de ser uma mulher reconhecida pelo seu trabalho.
No Expresso de 16/04/2011 dedica a sua crónica à ignomínia que grassa na internet, nomeadamente com um texto que lhe é falsamente atribuído, em que se dedicaria a demolir o seu amigo Mário Soares e que a Google argumenta não poder retirar, a não ser com ordem do tribunal.
Por acaso, tal texto nunca chegou até mim mas, quem é leitor de CFA certamente perceberá que uma coisa dessas só pode ser uma fraude.
É certo que há muitas coisas desagradáveis na internet. As caixas de comentários de jornais e blogues são, frequentemente, verdadeiros caixotes do lixo onde os malformados despejam os seus ódios, frustrações, invejas e má-criação.
Contudo, como é sabido, o bem e o mal coexistem em tudo na vida e, se a internet pode ter muitas faces desagradáveis, ela é também, e simultaneamente, um espaço de liberdade democrática como nunca antes se tinha conhecido.
Se é aberta a tudo e a todos, é também recetáculo do melhor e do pior que a humanidade contém, ou seja, se ela pode conter tudo o que há de pior nos humanos também é, e é-o muitas vezes, um espaço de criatividade e solidariedade do melhor que somos capazes de fazer.
CFA está zangada e com razão, mas parece que se esqueceu da parte boa da internet, parte que ela certamente a usa com proveito.
Nem tudo na internet é mau, nem tudo na internet é bom mas, pessoalmente, estou convencida de que os benefícios são bem maiores que os malefícios.
Podemos sempre voltar à velha discussão – deve, ou não a internet ser regulamentada.
Entretanto verifica-se que somos todos iguais: quando estamos zangados até o mais perspicaz fica um bocadinho vesgo.