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segunda-feira, novembro 24, 2014

Kit de sobrevivência






















 

Na sua crónica no Ípsilon de 21 de Novembro, António Guerreiro escreve a dado passo:

“A crónica Vale a pena ler livros novos? (de José Pacheco Pereira no Público) colocava, sem desvios, a questão de saber se algum ganho pode advir de gastarmos tempo a ler as novidades (…), um tempo precioso que nos faz falta para lermos os valores seguros do património literário do passado. A questão é muito pertinente. Podemos tentar responder-lhe desta maneira: se queremos compreender a nossa época, temos de correr o risco de sermos intoxicados por ela.”

Eu continuo a querer compreender mas, por estes dias, estou tão intoxicada que, se não “abrir as portas e janelas” corro risco de me ficar na intoxicação.

Ontem resolvi, portanto, ir ao Centro de Arte Moderna da Gulbenkian ver a exposição “Animalia e Natureza na Colecção do CAM” . Encontrei arte contemporânea (sobretudo a partir da década de 1960) a que se adere facilmente, e um grande número de trabalhos que nos lavam os olhos e a alma; diante deles, diremos simplesmente –  bonito, muito bonito.
E isso não é coisa pouca.

Aproveito e informo, com agrado, que a exposição dura até Maio de 2015, e ao domingo de manhã não se paga.
É que os tempos de grande intoxicação parece que estão para durar, e todos precisaremos de um kit de sobrevivência.

Nota: na imagem, um pássaro bem vivaço de Ana Marchand que integra esta exposição.

quarta-feira, agosto 20, 2014

Verão II - Do Sorriso























O SORRISO

Creio que foi o sorriso,

o sorriso foi quem abriu a porta.

Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia

entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

UAU!!!

Também aqui, mas p'ra pior.

Imagem: Nuno Cera, no CAM da Gulbenkian
 

terça-feira, abril 08, 2014

“O Peso do Paraíso”


 


Já aqui tinha feito um breve comentário às esculturas de Rui Chafes que estão no jardim da Fundação Gulbenkian, e não estava entusiasmada.

Agora, fui ver a exposição no interior do CAM.

Aquela enorme nave central, ainda por cima cheia de ruído arquitectónico, não facilita o trabalho de nenhum artista.

Nela, Rui Chafes dispôs as suas peças como pôde, sem recorrer a qualquer divisória do espaço, apostando em que cada uma delas falasse e valesse por si.

Como sempre, de tudo o que vemos, gostamos de modo desigual.

Há peças que nos encantam outras que nos assustam, umas que traríamos para casa de boa vontade e outras que nos desconfortam mas, creio, não há lugar para a indiferença do visitante.

Muito física e perturbadora, mas no bom sentido, esta é uma exposição que, afinal, gostei de ver.

Nota 1: imagem Gulbenkian

Nota 2: igualmente perturbador foi verificar que uma iniciativa dos serviços educativos da Gulbenkian que estava a decorrer tinha a participação de cerca de uma dúzia de crianças, mas todas raparigas. Não me contive e falei nisso a uma animadora do grupo. Disse-me que foi um acaso, porque geralmente a distribuição meninos/meninas é mais equitativa.
E eu saí mais animada. Ou menos perturbada.

 
 
 
 
 
 

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

45 Milhões de euros


















Eu sou fã da Gulbenkian.

A bem dizer, gosto de tudo ali – dos jardins, do museu, dos auditórios, do CAM, da biblioteca, dos cafés e restaurantes, da livraria Almedina dentro do CAM − e continuo a achar que aquele é um espaço único na cidade.

Porém, às vezes também me merece reparos e críticas, o que nem é de estranhar, posto que é dirigida pelos mesmos de sempre, aqueles que saltitam entre governos, bancos, fundações, empresas públicas, como é agora o caso do banqueiro Artur Santos Silva, e que, obviamente, têm a cabeça orientada no sentido inverso da minha.

Vem isto a propósito das várias obras que têm vindo a ser feitas no espaço da Fundação, com destaque para a inauguração, no último fim-de-semana, do renovado Auditório 1 e zonas adjacentes.

Há cerca de um ano escrevi aqui que, nas actuais condições, cabia à Gulbenkian “voltar a ser o oásis e o motor da nossa vida cultural, com iniciativas que nos galvanizem e nos façam acreditar que há vida para além das crises. Não é o que se está a passar no CAM.” (Post de 25 Março 2013)

Pelos vistos, o dinheiro nunca faltou para que tal se concretizasse, dado que, segundo o Público, o conjunto das obras custou 45 milhões de euros; o que faltou foi fazer essa escolha. Ao contrário, a Fundação escolheu investir em si própria, em vez de investir nos criadores portugueses, que andam à míngua, ou numa programação do CAM integrada nos circuitos internacionais, coisa que nunca sai baratinha.

Temos, assim, um auditório que era muito bom e que passou a excelente.
Ao mesmo tempo, o CAM inaugura exposições quase só com a prata da casa.



















Ainda não vi as que inauguraram na semana passada, talvez até sejam boas mas, para já, quando no jardim passo por esta escultura Rui Chafes, até tenho pena de não ser pombo.

É tão triste, o tempo que vivemos…

sexta-feira, agosto 23, 2013

Notícias do Verão VII - O Mar

















 
 
 
Fernando Calhau - 1948/2002
Mar III A (Remake)
DVD video, DVCAM video, Mini-DVD video, Super 8 video and Mini DV video  IM9

Artista representado na exposição do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian comemorativa dos 30 anos do CAM – “Sob o Signo de Amadeo”.
Até 19 Janeiro 2014

“Avançou até um local onde a água lhe dava um pouco acima da cintura e esperou, com os braços erguidos e as mãos enclavinhadas na nuca, que os círculos na água se dissolvessem e o seu corpo de dezoito anos se refletisse na suave ondulação.
Depois mergulhou, deu algumas braçadas e pôs-se a flutuar sobre as profundezas cor de esmeralda.”

O Jogo Sério
Hjalmar Söderberg (1869-1941)
Ed: Relógio d’Água

segunda-feira, março 25, 2013

Pobrezinha mas honrada?


A exposição da australiana Narelle Jubelin (Sydney, 1960), patente no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, podia perfeitamente ser uma exposição apresentada num qualquer Centro Cultural duma capital de distrito.

Saímos dela com uma sensação de quase nada, entre bordados, uns vídeos com as reflexões da artista sobre arquitetura e uma suposta tensão criada entre a obra e a arquitetura do CAM, como vi escrito algures mas não descortinei.

A exposição não envergonha, mas só isso. Não é o que precisamos nem o que a Gulbenkian nos pode dar neste momento de definhamento geral e cultural em particular.

Se é certo que nos últimos vinte anos a Fundação Gulbenkian deixou de ter, no panorama cultural português, a centralidade que teve desde o seu início, isso deve-se em grande medida à existência de novas centralidades que foram surgindo à medida que o país se desenvolvia e modernizava.

Com a profunda crise que nos tomou de assalto, o desaparecimento de organizações culturais menos sólidas e mais dependentes de apoios foi uma fatalidade.

Julgo que é em momentos destes que uma instituição sólida, e com meios próprios, como a Gulbenkian, tem um papel, e quase um dever patriótico, de remar contra a maré, contra o miserabilismo, contra as poupanças de chacha, contra o ideário do “pobrezinho mas honrado” , contra o imaginário tacanho do Portugal dos pequeninos.

Cabe-lhe fazer exactamente o contrário: voltar a ser o oásis e o motor da nossa vida cultural, com iniciativas que nos galvanizem e nos façam acreditar que há vida para além das crises. Não é o que se está a passar no CAM.
 
Culpa da curadora Isabel Carlos ou da tesouraria?
Não sei. Apenas sinto que a Gulbenkian ameaça ficar mais um cadáver entre tantos que a crise vai deixando pelo caminho.
Oxalá me engane.


sexta-feira, novembro 25, 2011

“Plegaria Muda”

A informação que temos, à partida, é que se trata de uma instalação de Doris Salcedo no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian.

Quando entramos na nave central do CAM, a sensação que temos é que chegámos a um lugar inventado por Doris Salcedo, como um memorial.
A instalação remete para a abertura duma vala comum na Colômbia, país da artista, onde se encontravam os corpos de 162 jovens mortos por um exército mercenário.

Com base nessa dolorosa e violenta vivência, a artista empilhou, duas a duas, 162 mesas. Entre elas, terra amassada onde se detectam pequenas raízes, e de cada mesa superior saem pequenas folhas de relva. Assim se constitui um labirinto que somos forçados a percorrer na sua interminável repetição.
É como visitar um cemitério (e os pés das mesas, no seu conjunto, lembram os alinhamentos das lápides nos cemitérios), onde não jaz ninguém que a gente conheça, mas onde mais não cabe que o silêncio ou uma “oração muda” .

Percorrendo o labirinto percebe-se a justeza do que Nuno Crespo escreveu no Ípsilon de 11 de Novembro –“A história do trabalho de Doris Salcedo é a história dos lugares em que a felicidade é um luxo e a tragédia humana quotidiana.”


No piso superior pode ver-se outra exposição – “Paisagem na colecção do CAM”. Com obras que vão de Amadeo de Souza-Cardoso aos jovens Nuno Cera ou Gabriela Albergaria, destaco, por gosto pessoal, 14 fabulosas aguarelas (de 1980) de Fernando Calhau. Se mais não houvesse, mas há, só por elas, vale a pena subir a escada.

segunda-feira, agosto 22, 2011

João Penalva no CAM

“Trabalhos com texto e imagem” é o nome da exposição antológica de João Penalva que o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian exibe até 9 de Outubro de 2011.
Constituída por fotografias, vídeos, textos, pinturas, esculturas e instalação, nela vamos descobrindo as múltiplas facetas dum artista a quem nenhuma forma de expressão é estranha. Bailarino, pintor, actor, escritor, tradutor, gráfico, curador, cineasta, fotógrafo, poderia ter sido também escritor, porque aqui encontramos também um bom narrador e contador de histórias (reais ou imaginadas), que até nos podem fazer rir: eu ri, e ouvi um jovem que estava por perto dar umas boas gargalhadas.
Porém, visitar esta exposição que ocupa todo o CAM, excepto a Galeria -1, exige tempo, muito tempo, porque não se trata apenas de ver, mas também de ler.
Ouso por isso dizer que o tamanho desta exposição é quase um absurdo.
Por mim, estive lá duas horas e só vi uma parte. Com muita pena minha, que gostaria de ter visto mais, as pernas disseram-me para ir embora, e eu fui. Pelas minhas contas, para ver e ler tudo, precisaria de lá voltar ainda umas três vezes. A quatro euros cada vez…é fazer as contas, como dizia o outro.
Quem quiser ficar-se por uma única visita, dependendo da sua condição física e do número de vezes que vai ao ginásio, pode ficar com um visão maior ou menor do excelente trabalho dum dos nossos  mais internacionalizados artistas.
O catálogo que acompanha a exposição não desmerece; com abundantes reproduções, tem textos em português, inglês e dinamarquês de Rachel Withers, Bruno Marchand e João Nisa (cinema).
Preço, 40 euros.
Enfim, luxos.