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segunda-feira, dezembro 02, 2013

Bicho ruim




Nestes conturbados tempos, há dois crimes de lesa–pátria que ninguém deve ousar cometer, muito menos nas redes sociais.

Um, é não se derreter com as megalómanas e apologéticas obras de Joana Vasconcelos; o outro é não carregar o andor de Nossa Senhora dos Pobrezinhos, ou seja, Santa Isabel Jonet.

Quem a tal se abalançar, leva logo pelas trombas com os rótulos de esquerda entre aspas, mesquinho, ressabiado, bem pensante, enfim, tudo aquilo que os genuínos guardadores da verdade acham que têm o direito de chamar aos bichos ruins, comuns criminosos de lesa-senhoras.

Quanto à Joaninha, espero que continue por muitos anos a sacar dinheiro às empresas e apoio ao Estado. Sabe viver, e não me pede nem sequer que goste do seu trabalho, ao contrário dos seus apaniguados. Aprecio isso. Força Joana.

Santa Isabel vem, duas vezes por ano, pedir comida para os pobres. Claro que alguém tem que os alimentar, e temos que ser nós. Se as empresas os despedem, se os troikos acham que o salário mínimo por aqui é sumptuário, e se o Estado acha que os nossos enormes impostos não podem servir para amparar quem tem fome, vamos fazer o quê? Temos que ser nós, é claro que temos que ser nós.

Não carrego o andor da santa, não gosto nadinha dela, mas é óbvio que também dei para aquele peditório. Temos que ser nós, é claro que temos que ser nós. Qual é a dúvida?

Procurei também não pensar nos ganhos extra dos supermercados este fim de semana, nem no IVA que a Maria Luís Albuquerque arrecadou à contra dos famélicos da nossa terra. Meti a viola no saco, e mais o arroz, o óleo e as salsichas, e fiz o que tinha a fazer.

No Facebook encontrei a imagem lá de cima e roubei-a. Ontem foi dia da Restauração da Independência e a mim só me apetecia fazer o que aqueles fizeram há 373 anos – defenestrar, defenestrar, defenestrar.
Mas isso é porque eu sou um bicho ruim.

Nota: imagem roubada no FB à Adriana Bebiano.

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Posso escolher com quem ando?

O peditório do Banco Alimentar contra a Fome correu bem. Ainda bem.

Esta organização sempre foi muito acarinhada cá na família, com doações e respeito.
As já célebres declarações de Isabel Jonet que, aos meus olhos, não foram nada infelizes mas completamente genuínas, fizeram abanar os alicerces do afecto e empatia.

Afinal, as ideias dela nada tinham que ver com as minhas; eu pensava que o Banco era uma organização movida pela solidariedade e fiquei a perceber que o combustível era a caridade.

Nunca fui adepta da caridade, mas respeito-a como um pilar da fé católica – cada um gosta do que gosta.

Nestes tempos difíceis, é preciso acorrer a quem não tem comida no prato e por isso nem me passa pela cabeça deixar de o fazer. Tenho, porém, o direito de participar como e com quem eu quiser, e decidi ser preferível fazê-lo com quem nunca quis parecer aquilo que não é. Refiro-me à Igreja, através da sua organização Cáritas, que faz um trabalho que em nada fica a dever ao Banco, só que em surdina, sem happenings bianuais.

Assiste-me ou não o direito de escolher a companhia para atravessar o pântano? Entendo que sim, e por isso acho triste ver um certo fanatismo alarve, beato e leviano vertido para texto, como neste caso:

“Ser solidário é importante.
...e não se preocupem com a maltinha bem-pensante que vos vai dizer que ajudar o Banco Alimentar (eles dirão "tia Jonet") é fazer caridadezinha.
De facto, eles estão mais preocupados em ser coerentes com o próprio e adorado umbigo e é gente que nunca deu nem dará nada a ninguém, nem um beijo, nem um abraço, nem a ponta de um corno, nem nada...”
(retirado do Facebook)

Pensar pela própria cabeça e fazer escolhas de acordo com as convicções de toda uma vida parece transformar-nos em “bem-pensantes”, termo sempre usado com enorme carga negativa, e, simultaneamente, nuns estupores que nunca deram nada a ninguém.

Se é costume dizer que as acções ficam com quem as pratica, eu acrescento que as palavras desnudam quem as profere − seja a Isabel Jonet na televisão ou um cidadão anónimo no Facebook.
É por isso que elas, as palavras, são tão perigosas.
 


 

terça-feira, novembro 29, 2011

Troco um Pedro por uma Isabel

A campanha de recolha de alimentos do Banco Alimentar contra a Fome foi, apesar da enorme crise, mais uma vez um sucesso.
É certo que o Banco e as suas campanhas fazem apelo ao que de melhor há em nós, portugueses – a solidariedade generosa com os que estão em aflições aqui ou em qualquer parte do mundo.

Podemos não dar bom-dia ao vizinho, infernizar a vida do colega, roubar o lugar de estacionamento a quem chegou primeiro, não apanhar do chão o que um mais velho deixou cair, abandonar a velha mãe no hospital durante a Páscoa e o gato nas férias de verão, mas lá que somos solidários com os que não conhecemos mas sabemos que estão em apuros, ah! lá isso somos.

Claro está que o Banco é uma organização exemplar que, ao longo dos anos, ganhou a simpatia e confiança dos portugueses. A maneira como presta contas regularmente aos seus doadores é até estranha em Portugal, e isso leva-nos a confiar na seriedade da organização.
Tem mão da Igreja, é certo, mas o que a Igreja faz bem feito…faz bem feito.

A figura discreta, quase de missionária, de Isabel Jonet, escondeu durante anos aquilo que agora o país inteiro já sabe – que é uma mulher inteligente, determinada, imaginativa, organizadora, séria e com enorme capacidade para dirigir com alto grau de profissionalismo aquilo que já é uma grande organização; tão grande que é capaz de alimentar 329 000 pessoas, não directamente, mas através de 2047 instituições.

É pena que não lhe dê para a política. Gostava de a ver sentada a discutir o orçamento de Estado; não por ser mulher,  nem por eu achar que gerir um país é o mesmo que gerir uma casa, longe disso, é por me parecer que ela sabe o sentido exacto da palavra equidade.
Agora mais do que nunca, por mim, trocava um Pedro por uma Isabel.