Baltazar Garzón escolheu para si próprio a figura de juiz
star que nunca me agradou; muitas das suas atuações também me levantaram, ao
longo dos anos, as maiores reservas.
Entendo que um juiz deve ser discreto, e se nunca se falar
dele, tanto melhor.
Ao contrário, Garzón há anos que procurava a ribalta,
construindo laboriosamente uma imagem de justiceiro universal.
As minhas campainhas de alerta soaram a quando do seu mandato
de prisão contra o ditador chileno, Augusto Pinochet.
E se eu abominava
aquele homem! Mas, enquanto toda a gente batia palmas, eu franzia o sobrolho;
aquilo tresandava a golpe mediático e, sobretudo, parecia-me um atestado de
menoridade passado à ex-colónia, a quem não era reconhecida capacidade para
acertar as contas com a sua própria história, como e quando o entendesse.
O mesmo se passou com a investigação aos crimes de guerra do
franquismo.
Espanha fez, bem ou mal não interessa, um pacto de “esquecimento”
sobre o qual construiu a sua atual democracia. Esse pacto será revisto quando,
se, e como os espanhóis o entenderem, e não por capricho dum só juiz.
O que agora levou ao seu afastamento ultrapassou, em meu
entender, todas as marcas; e não me venham dizer que os juízes do Supremo
Tribunal, que votaram por unanimidade a sua suspensão, são todos franquistas
ressabiados, porque não posso acreditar nisso.
Escutar as conversas entre presos e seus advogados não é
admissível.
Num Estado de direito e democrático, há uma linha que não
pode ser ultrapassada, os fins não podem justificar os meios, e as democracias
não podem usar os métodos das ditaduras.Ainda que o bandido nos fuja, ainda que a alma nos doa.