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terça-feira, agosto 27, 2013

Consumidos pelo ódio

Desde domingo que padeço duma persistente náusea.

Chegada a casa depois de um tão simples quanto excelente almoço em excelente companhia e em paisagem privilegiada, ligo o computador e tomo conhecimento de que António Borges morreu.

Nada de particular tinha a dizer na sua morte.

Era antes de mais, e sobretudo naquela hora, um homem como qualquer outro, isto é, marido, pai, avô e talvez ainda filho de alguém que, inevitavelmente estava sofrendo uma perda.

Para além disso, era um homem que, sobre sociedade e política pensava o oposto do que eu penso, dizia-o, e desse conjunto de pensamentos e palavras nascia uma figura que me era muito antipática.

Contudo, o poder de que alguma vez dispôs para nos fazer mal não lhe caiu do céu, nem foi usurpado, antes lhe foi outorgado por aqueles a quem nós próprios confiámos o poder.

A dita náusea, porém, nasceu e cresceu à medida que fui lendo o que se publicava nas redes sociais.

Cheguei a ler agradecimentos ao cancro, vi evocar o castigo divino, e vi também desferir violentos ataques sobre quem, não lamentando a morte do homem, ousou, porém, insurgir-se contra tanta intolerância e ódio.

Como é feio de ver este meu povo de esquerda que, impotente para sacudir as cangas que periodicamente lhe põem ao pescoço, se acoita no ódio e se  alivia  chafurdando num sórdido e generalizado rancor.

Um homem e um político que defende o que António Borges defendeu é, para mim, um homem desprezível, sem sombra de dúvida.

Mas, e daí? Temos mesmo de ser iguais a ele?

 

segunda-feira, junho 04, 2012

Borges e Sachs e FMI e etc.

As histórias sobre António Borges que vieram a lume recentemente são várias e com narrativas também variadas.

Tentando separar factos de interpretação e de teorias da conspiração, apurei que, na verdade, António Borges ganhou, em 2011, enquanto esteve ao serviço do FMI, 225 mil euros livres de impostos.

Não tenho nada contra quem ganha bem; costumo até advogar que políticos e polícias, por exemplo, deviam ser bem pagos para serem menos permeáveis às tentações.

Acontece que, trabalhar para alguns organismos internacionais transforma as pessoas numa espécie de deuses que não se regem pelas regras dos outros mortais e, por isso, estão isentos de imposto - caso de Borges e Lagarde.

Acresce a isto que a arrogância que o poder do lugar lhes traz os torna execráveis, deixando-lhes “o coração ao pé da boca”, livres para dizerem tudo que lhes der na real gana.
Lagarde está-se nas tintas para as crianças gregas e Borges acha indispensável baixar salários em Portugal.

Quem ganha 225 mil euros por ano não faz a menor ideia do que seja viver o mesmo período de tempo com 6 ou 7 mil euros, mas também não quer saber, não pára para pensar, não quer imaginar, não quer pôr-se no lugar de, e muito menos quer saber se as suas palavras ofendem os mais fracos do seu país.

Por mim, também não quero saber se Borges é competente. Sobre isso há muitas dúvidas, e há até quem diga e escreva que foi despedido do FMI por incompetência. Além disso, a competência pela competência não me interessa nada; o que me interessa é a ideologia que o competente vai pôr em prática.

Também não quero discutir as suas ligações à máfia do Goldman Sachs, mas essas ligações deixam-me muito intranquila quando sei que tem em mãos o dossiê das privatizações que vão deixar o meu país mais pobre e permitem muitas negociatas.

Posso decidir enfiar a cabeça na areia e não querer saber de nada disto, mas um sujeito de 63 anos que não tem, ao menos, pudor nas palavras usadas, merece toda a minha desconfiança e antipatia.