No Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, pode ver-se até fim de Março uma exposição retrospectiva de Ana Vieira (Coimbra, 1940) composta por obras que vão dos finais dos anos 1960 até à actualidade.
A tradicional pintura bidimensional nunca foi o objecto de trabalho da artista, antes a criação de peças em suportes variados.
O que me encanta na obra de Ana Vieira é o jogo de mostra/esconde, o vazio (ou a ausência), às vezes o som, a necessidade que o espectador sente de activar todos os sentidos, de olhar com o corpo todo.
Se em trabalhos mais antigos o nosso olhar se depara com finos tecidos, telas ou biombos que “escondem” o que está para lá deles, criando alguma teatralidade que parece querer deixar-nos na plateia, nesta exposição somos convidados a atravessar um corredor branco ao longo da nave, como se Ana Vieira, finalmente, abrisse a porta e nos dissesse – entrem e participem no meu trabalho.
A exposição é muito boa e merece ser vista.
Enquanto a visitei não pude deixar de evocar alguns trabalhos de outras artistas portuguesas mais ou menos da mesma geração – Helena Almeida e Lourdes Castro.
Infelizmente para elas, não emigraram, pelo menos o tempo suficiente para terem o reconhecimento público no estrangeiro que as faria entrar em ombros em Portugal; também não sabem, nem querem saber, nada de marketing.
Não se chamam Vieira da Silva, Paula Rego ou Joana Vasconcelos, únicos nomes de mulheres artistas que os portugueses conhecem. É pena, porque elas mereciam mais do que lhe soubemos dar.
De lamentar nesta visita, apenas a ausência de uma simples folha de sala que ajude o espectador a situar a obra duma vida no contexto da arte contemporânea portuguesa.
Existe no balcão uma publicação minúscula que custa €1,5. Se a isso juntarmos €4 de entrada, gastaremos ali €5,5 duma assentada; pode dizer-se que a Gulbenkian está cara
e não é para todos. Mas alguma vez o foi?