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quarta-feira, abril 27, 2022

A senhora Inna Ohnivets

O 25 de Abril não é de ninguém. É de todos os que se queiram encontrar na rua, celebrando a liberdade e uma data que lhes é querida.

É dia de risos e abraços, encontros, cravos na mão, corres garridas no vestuário, ténis nos pés, conversas, recordações e esperança no futuro.

Quem quiser, aparece. Vai alinhado ou desalinhado. Pertence a um grupo ou a si mesmo. E tudo isso está bem.

Tem sido sempre assim, até que apareceu um novo partido, a Iniciativa Liberal, que está sempre de olho na “facturação” e no lucro. Foi isso que bispou ao convidar a senhora Inna Ohnivets , embaixadora da Ucrânia em Lisboa, para desfilar com eles numa festa à parte, só deles.

E não é que a senhora Inna aceitou? Embrulhou-se na bandeira do seu país e lá foi. Tenho para mim que a senhora Inna sabe tanto do que é a IL como de Bacalhau à Zé do Pipo, e isso nem seria grave se não mostrasse que ela também não sabe qual deve ser o papel de um embaixador, e isso, sim, já é grave.

A ajuda de Portugal à Ucrânia, tem sido feita por todos nós, individual e colectivamente, mas por TODOS. Em nenhuma circunstância um embaixador pode aliar-se a uma parte do país que o acolhe em detrimento de outra mas, neste caso em particular, é de uma injustiça tremenda.

Acredito que não fez por mal, não creio que seja liberal nem qualquer outra coisa.

Como não tenho más intenções, quer-me parecer que a senhora Inna será apenas burra.


terça-feira, abril 26, 2022

A coisa que nos une

 Centenas de milhar de pessoas enchendo durante horas a Avenida da Liberdade em Lisboa, do Marquês ao Rossio. Esmagador. Continua a surpreender-me. 47 anos depois (e apesar de dois anos de interrupção pela pandemia), o 25 de Abril continua a ser O Dia. Surpreende pela adesão, e surpreende porque não é uma manifestação com uma reivindicação, não é uma festa, não é um evento desportivo ou religioso. É simplesmente um estar na rua, um passear, um estar junto, marcar presença no sentido bom da expressão. E o que se celebra não é uma data nacionalista, não é uma independência, não é uma vitória bélica, é o fim duma ditadura e o estabelecimento duma democracia. Que seja este o motivo e que seja aquela a forma de celebrar, é uma preciosidade e uma raridade. Que seja isto que nos une às centenas de milhar ano após ano é extraordinário e um bem valiosíssimo a preservar na nossa comunidade e que já foi passado às gerações seguintes.”


Miguel Vale de Almeida, numa rede social

(são 48 anos e não 47 como ele escreve)

25 Abril 2022


quinta-feira, abril 24, 2014

Ontem, hoje e amanhã













 
 
 
 
Ontem à tarde, na Fundação Gulbenkian, terminava a conferência de dois dias sob o tema “A Ditadura Portuguesa, porque durou, porque acabou”.

O painel de oradores era variado, terminando com os três ex-presidentes.

Fui. E as minhas expectativas não saíram defraudadas porque houve excelentes intervenções embora, por vezes, os oradores se tenham repetido uns aos outros, o que até não se estranha dadas as balizas impostas pelo tema.

Porém, pelas sete da tarde lamentei não ter feito um estágio em Cuba ouvindo os discursos do Fidel. É que, a essa hora, eu já “papara” quatro horas e meia de discursos (não houve nunca diálogo com a plateia) e onze oradores. E ainda faltavam Mário Soares e Jorge Sampaio.

Tenho a certeza que foi nesse o exacto momento que corpo e mente, em uníssono, disseram: chega, vai-te embora! E fui, deixando lá, com pena, dois presidentes por ouvir.

Entre a assistência estavam muitas caras conhecidas, mas uma havia que queria ser vista por todos. Uma jornalista recentemente premiada como escritora, e muito aplaudida pelo seu discurso de aceitação do prémio (inclusive por mim), abria a plumagem, exibia sorriso de diva em estado de beatitude e não dava conta dos cabelos − para cá, para lá, numa dança de sedução feminina tão velha como o tempo.

Decerto toda a gente a viu, até porque, pela sua idade, destoava um pouco da restante plateia.

A foto ali de cima mostra as cabeças que eu podia observar do meu lugar e, ao vê-las, obrigatoriamente nos comparei àqueles grupos de velhinhos que faziam romagens ao cemitério a cada 5 de Outubro, e de quem ríamos com juvenil desdém.

Está em formação acelerada a brigada do reumático que comemorará o 25 de Abril até ao fim. Integro-a com gosto e, por isso, amanhã lá irei ao Largo do Carmo ouvir o Vasco Lourenço ou outro qualquer.
É que, para mim, falar em Capitães de Abril ou MFA ainda me dá frisson.
Ontem, como hoje, ou amanhã.

Bom 25 de Abril. Sempre!

terça-feira, abril 15, 2014

Deve ser nostalgia



 
Deve ser nostalgia o que me ataca.

O ar, por estes dias, anda saturado de fotografias a preto e branco cheias de gente hirsuta de camisa estreita, com gola alta ou colarinho bicudo, saias curtas ou calças boca-de-sino.

Há-as também com soldados-meninos carregando metralhadoras e sorrisos, ruralidades cândidas e assombradas, dentes podres ou ausentes, que carne para canhão não precisava de tratamento dentário nem era suposto aparecer na fotografia

Deve ser nostalgia, suponho.

Dos dias alucinantes e alucinados, de nunca estar ninguém em casa, da ingenuidade, do rádio-prótese auditiva 24 horas por dia, do boato, do golpe, do pseudo-golpe,  do contra-golpe, das conquistas, das batalhas verbais, dos megafones, do canto-livre, dos plenários, assembleias, comissões e discussões, dos incontáveis caminhos do Alentejo, dos ganhos e perdas, emoções e desilusões, amores e desamores, dos amigos e dos reaças, dos fuzas,  dos páras e dos capitães.

Deve ser nostalgia, sim.
E a culpa é das fotografias.

Foto: Alfredo Cunha