É bom avisar
logo de entrada que detesto Nuno Crato e as suas políticas; acho-o até um muito
perigoso bandido político, dos piores do governo.
Porém, um
destes dias, o homem defendeu a austeridade do orçamento para 2014 e explicou,
como se fossemos muito burros, que sem essa austeridade, para pagar a nossa
enooooooooorme dívida, "teríamos de
trabalhar mais de um ano sem comer, sem utilizar transportes, sem gastar
absolutamente nada só para pagar a dívida “.
A partir
daqui, o jornal i titulou: "portugueses precisam de trabalhar um ano sem
comer para pagar a dívida”.
Que faz a
populaça em fúria com tudo e com todos? Vai ler o artigo e tentar perceber
aquilo que à primeira vista parece um disparate? Não. Toda a gente interpreta
como dá jeito ao seu ódio, ou seja − o fdp quer que a gente deixe de comer
durante um ano.
A culpa,
neste caso, nem foi da iliteracia, embora ela se faça sentir com grande
vivacidade nas redes sociais; como parece óbvio que ninguém iria sugerir que
morrêssemos todos para pagar a dívida, foi a irracionalidade do ódio e a
satisfação com a superficialidade da informação absorvida que conduziram a
comentários do tipo:
- Vómito.
- Ele devia
passar um ano sem comer.- Sujeito abjecto, desprezível.
- Um escarro com poder!
- Asqueroso
- Uma aberração! A estupidez típica deste regime: trabalhar um ano sem comer...
- Este tipo consegue é comer um ano sem trabalhar. Malandragem.
- Puta que o pariu
- Ficamos sem comer para dar milhões a colégios privados
É só uma
pequena amostra.
Já é grave
para um país ter um ministro como Crato; mais grave ainda é ter um população
que não busca a verdade, que não quer entender, que não se esforça por se
informar, que deturpa tudo para o lado que lhe dá jeito, que, no fundo, aceita
iludir-se a si mesma.
Mas o mais preocupante
de tudo é que, não raro, estes comentários têm início em pessoas que, apesar de
terem responsabilidades na sociedade portuguesa, parecem ter desistido da
boa-fé num combate político em que já vale tudo.
Não, as
crises nunca são oportunidades. Para nada.
E sempre
trazem ao de cima o que de pior há em nós.Posto isto, claro que a conversa do Crato é cretina.