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sexta-feira, julho 18, 2014

A pergunta do arquitecto













 
 
 
 
 
Li no Público que o arquivo de Siza Vieira pode vir a acabar no Canadá, mais precisamente no Centre Canadien d’Architecture.

Felizmente é tempo de férias, e isso poupa-nos o enfado de ler um milhão de irados comentários, todos contra os habituais inconseguimentos da pátria.

Por mim, acho bem. Há pessoas que não cabem onde nasceram, seja qual for o sítio em que tenham nascido. O mundo tomou-as como suas, e não vejo nenhum mal em que seja o mundo a tomar conta do seu legado.

Não sou uma incondicional apreciadora do trabalho do Siza; amo Serralves ou o Pavilhão de Portugal, não gosto, nunca gostei do Bairro da Malagueira em Évora.

Mas foi precisamente em Évora, e por causa da Malagueira, mesmo no seu início, que conheci Siza Vieira, ao tempo um arquitecto desconhecido da maioria dos portugueses (eu incluída).

Um dia, nesse final da década de 1970, Siza foi a minha casa e, observando-me com o meu primeiro filho recém-nascido ao colo, perguntou mansamente na sua voz sempre enrolada no fumo:

- O que sentiu a primeira vez que olhou para ele?

Lembro-me que não respondi imediatamente. Não é suposto que nos façam perguntas destas. Mas vasculhei bem no meio da consciência e acabei encontrando a resposta:

- Respeito, disse.

Siza meneou um pouco a cabeça e nada disse; apenas deu mostras de ter satisfeito uma curiosidade sua.

Se aquele homem, quase um estranho, não tivesse ousado fazer-me uma tal pergunta eu, se calhar, nunca descobriria que tinha divergido do cânone que mandava que respondesse:

- Amor!

E foi assim que, para sempre, fiquei a dever a Álvaro Siza Vieira, arquitecto de profissão, uma das perguntas mais interessantes e esclarecedoras com que fui confrontada na vida.
Penso que nunca mais nos encontrámos.

quinta-feira, setembro 26, 2013

Mulher berloque


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O que estás aí a fazer Fernanda Lapa?
Estarás a fazer o papel do berloque que dá uma nota de garridice à toilette demasiado macha e cinzenta?

Esse é um “papel” já muito visto – o de berloque − que a Actriz não devia aceitar representar e contra o qual a Mulher se devia insurgir.
Acho eu.

Uma comissão de honra paritária é coisa que nem lhes ocorre.
E era tão fácil.
Canseira! Esta, a de ver sempre a mesma “peça”.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Amiguismo, miopia ou apenas humor?

A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) resolveu atribuir a Évora o prémio Melhor Programação Cultural. (Notícia aqui)

Se o prémio tivesse sido atribuído há 15 ou 20 anos, seria bem merecido; em 2012 só pode ser anedota, ou miopia ou amiguismo.

Évora tem sido, na última década, o excelente exemplo dum desastre de gestão autárquica.
Desde que, em 2001 o PS ganhou as eleições autárquicas, começou o desbaratar do património cultural laboriosamente construído durante vinte anos.

O Centro Histórico de Évora (CHE), classificado Património da Humanidade em 1986 foi deixado ao abandono no que constituiu um criminoso assassinato da “galinha dos ovos de ouro”.

Sendo uma cidade essencialmente de serviços, o que tornava aquele Centro Histórico único era a capacidade de preservar o edificado ao mesmo tempo que se mantinha um centro vivo e animado.

Ora, logo que o PS chegou ao poder, tratou de retirar a grande maioria dos seus próprios serviços do CHE, transferindo-os para um barracão que arrendou por uns milhares de euros no Parque Industrial.
Foi o tiro de partida para que muitos outros lhe seguissem o exemplo, conduzindo inexoravelmente à desertificação do CHE.

Hoje, ele é habitado por um punhado de velhos, o comércio definha e, em muitas ocasiões, parece uma cidade fantasma.
O edificado é deixado ao abandono, com inúmeras casa fechadas e sem que para alterar a situação se conheça qualquer plano.

Quanto à programação cultural, que foi pujante nos anos 1980, 1990 é agora escassa e paroquial.

O Cendrev (teatro) tem sido alvo de inúmeras tentativas de “morte matada”, as muitas organizações culturais de menor dimensão foram asfixiadas pela retirada de apoios, o embrião dum museu de arte contemporânea que existia em 2001 foi prontamente abandonado, bem como o festival de verão “Viva a Rua” que já se tinha afirmado a nível nacional. Finalmente, há três anos, fechou o cinema.

Excelência na conservação do património e na programação cultural?
Só dito por ironia.
O sentimento de quem lá vive resume-se nesta história que vi contada no Facebook:

PE foi buscar o filho à estação dos comboios. Quando este parou, uma rapariga saltou para a gare, olhou em volta e perguntou-lhe:
- Aqui é Évora?
Ao que ele respondeu:
- Não menina, aqui é o Desterro.
Amiguismo, miopia ou uma simples anedota?


Nota: foto de rua de Évora já publicada neste blogue num post com o título Notícias da Desolação

segunda-feira, novembro 28, 2011

Classificados estamos

 

Chegou ontem, finalmente, a esperada notícia – o fado foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Uff, que alívio, aquilo nunca mais se despachava.

Não sendo apreciadora de fado, reconheço que oiço com agrado a voz poderosa, limpa e bem modulada de Amália quando, por acaso, subo a Rua do Carmo numa manhã clara e calma de verão. Há ali qualquer coisa que me vem de longe e a que não sou alheia.
Contudo, fado vadio, fado canalha, era outra coisa, pertença do povo antigo que já não tem lugar à mesa do Portugal modernaço. Agora é limpinho, cheirosinho e “beto”.

No dia 25 de Novembro (6ª feira passada), comemorou-se o 25º aniversário da classificação do Centro Histórico de Évora como Património da Humanidade.
Fruto do entusiasmo, visão estratégica, capacidade política e empenho do presidente, vereação e técnicos que ao tempo dirigiam a autarquia, foi possível conseguir essa classificação, reconhecimento bem raro nos idos de 80 em Portugal.

O mais extraordinário é que a candidatura quase não teve custos, visto que tudo foi feito com a “prata da casa”, ou seja, os técnicos da autarquia; ainda não tinham chegado os nossos tempos de novo-riquismo em que tudo se encomenda fora, como quando não apetece ou não se sabe cozinhar (e nem se quer aprender) e se come sempre fora; caso esteja a chover, manda-se vir.

Dá que pensar o que farão hoje tantos técnicos dentro das câmaras, se tudo o que é estudo, projecto ou parecer se encomenda no exterior.
É por isso que, há 25 anos, a classificação do Centro Histórico Évora custou quase nada (pouco mais que a deslocação à cidade de duas delegações do ICOMOS), e a classificação do fado custou 1,5 milhões de euros.
Mudam-se os tempos…

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Notícias da desolação

Por altura da Páscoa de 2010, a EDP armou duas magníficas barracas em duas das principais praças da cidade de Évora, para lançar um não menos magnífico programa que se chamava qualquer coisa como Évora Cidade Digital.
Aqui deixo algumas imagens, colhidas numa só rua do Centro Histórico de Évora, desta também magnífica parceria que tem vigorado ao longo dos anos, entre a EDP e a CME.
Depois de ver as imagens, para aliviar a angústia, é bom fixar o olhar só no céu, o inigualável céu de inverno alentejano.