segunda-feira, maio 05, 2014

Um querido


 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lá na minha terra, quando se está meio distraído, diz-se que se “está com um olho no burro e outro no cigano”. É bem possível que isto seja um bocado xenófobo, mas deixo ficar assim mesmo; a imagem é boa para ilustrar o modo como oiço a maior parte dos comentadores políticos hoje em dia – “um olho no burro e outro no cigano”.

Assim estava eu, mais uma vez, no sábado passado, enquanto Marques Mendes perorava na SIC.

De súbito, Mendes desata a elogiar Jerónimo de Sousa com tal convicção que fui levada a pôr, de novo, os dois olhos no burro (maneira de dizer, claro)

É que não é o único a fazê-lo. Todos os comentadores de direita adoram o homem. Que é muito simpático, afável, uma pessoa encantadora, obladi, obladá.

Percebo que por detrás desta” louvaminhice” unânime está uma mal disfarçada complacência dos doutores para com o ex-operário, e também a inabalável certeza de que o PCP dirigido pelo simpático nunca lhes causará incómodo de monta.

Mas, caramba, irrita-me muitíssimo que o líder do partido que representa uma grossa fatia da esquerda portuguesa nunca, nunquinha, seja capaz, por sua vez, de irritar a cambada.

Se não precisa de dar ares de quem coma criancinhas, por mim também dispenso um avô fofinho e consensual no lugar de representante máximo dos comunistas portugueses.

6 comentários:

  1. Minha cara. Um texto excelente e realista.
    Vou partilhar no facebook.
    Abraço
    Rodrigo Henriques

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  2. A ideia que tenho da expressão "um olho ..." é precisamente a oposta à da distracção - é alguém que está super atenta a controlar todo o ambiente - isto é o burro e o cigano! Quanto à situação, você não estava a ver o burro, estava a ver o cigano!

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    1. Jarra, obrigada pela risada que me proporcionou. Quanto à questão do olho, continuo a achar que não estarei muito atenta porque não estou focada num aspecto e apenas nele. Só isso. Mas estar atento a duas ou mais coisas é especialidade feminina sobretudo quando há filhos pequenos. Logo, também pode ter o sentido que lhe dá, claro.

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