quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Secretos temores

“A morte, pensou, não é essa fronteira, essa vala imóvel que imaginamos quando acaba de acontecer, mas sim um progressivo afastamento que desemboca no vazio e na deslealdade.”

Antonio Muñoz Molina
Beatus Ille.

Deve ser por saberem isso que as pessoas enchem as casas de tralha contra o esquecimento − fotografias, bibelôs, porcarias trazidas das viagens, catálogos e bilhetes de espectáculos ou exposições, toalhas da avó, candeeiros da tia, flores secas da adolescência, porcelanas da sogra, naturezas mortas da prima que tinha muito jeito.

Deslealdade e vazio são coisas que não temo.
Apenas temo viver, algum dia, no mausoléu da minha própria vida.

2 comentários:

  1. Não sou muito dada a guardar bibelots e objectos como toalhas e afins mas bilhetes e outras coisas do género, como postais, panfletos, etc enchem caixas cá em casa. :) Ossos do ofício julgo eu.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Treinar a memória dos afectos para os ter sempre à mão parece-me mais sensato e higiénico do que encher caixas com eles, Lili :)))

      Eliminar