quarta-feira, dezembro 05, 2012

O Henrique e as malhas da Ti’ Maria


Quando eu levava a sério o Henrique Raposo, embirrava um bocado com ele mas, no momento em que percebi que o rapaz não podia ser levado a sério e que aquilo era mais ou menos um intermezzo humorístico do Expresso, passou a ser, para mim, o autor da semanal croniqueta light.

No sábado passado, voltou às origens e às camisolas de malha da Ti’ Maria, que lhe eram oferecidas no Natal e na Páscoa, e davam um jeitaço porque eram quentinhas e coloridas e tricotadas com amor e passavam de tronco para tronco.

Eram bons tempos, na perspetiva do Raposo, e estão de volta, com a graça de deus.

Então ter as tias todas a tricotar furiosamente para os ganapos ali à volta da braseira não é um ideal para o século XXI, para a refundação da família cristã e do próprio país?

Se o Henrique fosse um pouco mais velho ainda se havia de lembrar, com prazer, dum texto do livro único do Salazar para a escola primária.

Mas eu conto: era uma vez um menino mau que foi aos ninhos e rasgou as suas únicas calças. A irmã, depois de o admoestar por tão feia acção, e para que a mãe não percebesse, pegou na agulha, não a de tricotar da Ti’ Maria, mas a outra, a de coser, e arranjou as calças na perfeição. O texto terminava dizendo: “Que lindas que são as meninas que sabem costurar”.

Ó Henrique, caraças, isso é que eram bons tempos. Já viu só, se conseguisse juntar a Ti’ Maria a tricotar e a mana a coser para si? Era o paraíso na terra.

Porcaria de país este, que meteu na cabeça que havia de ir à Benetton comprar malhas.
Mas os “ontem que cantam” na cabeça do Henrique são um verdadeiro farol para o futuro do país.


8 comentários:

  1. É o "downsizing" do "lifestyle" dos escritores light. Última moda do Outono-Inverno 2012.

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    1. Eh! Eh! Só é pena que não façam downsizing da parvoíce :)

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  2. Fez-me rir tanto!
    Vamos por partes:
    Eu ainda sou do tempo de tricotar...mas nunca fiz um casaquinho nem meias ao meu filho. Palpita-me que já nem o saberia fazer.
    Já coser, é o cabo dos trabalhos, porque não gosto...mas, sei fazer uma bainha e coser um botão.:))
    Acho que insisti mais em coser com u Z:))

    beijinhos sorridentes

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    1. Eu ainda tricotei bastante para os meus filhos e acho que pode ser uma actividade bem relaxante, mas o que não acho graça nenhuma é aos tempos de carência que o bom do Henrique acha terem sido o suprassumo do suco da barbatana :)
      Beijinho

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  3. Um idiota com voz. Mais um, se bem que se a tia e a irmã pensam de igual modo bem podem ficar caladinhas a trcicotar

    :)

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  4. Anda uma moda do antigamente...
    Aliás a moda mais antiga do mundo ...
    Revirar colarinhos às camisas, promover a caridade, ter muito respeitinho!
    Sempre houve coisas boas em todos os tempos - estas são as coisas más do nosso tempo!

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  5. Vivo para ver o dia em que os homens da minha vida me façam uma camisola de malha. (ainda não li a crónica do Henrique, esta semana está escassa em tempo, mas já é habitual que os homens cronistas - seja nos jornais ou nos blogs -, sobretudo os de formação católica, de tempos a tempos lancem umas pérolas que põem as mulheres no seu devido lugar...).

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    1. O pior de tudo, Lili, são as saudades que alguns têm dum tempo que (felizmente) nem conheceram.

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