terça-feira, fevereiro 14, 2012

Temo juízes justiceiros


Baltazar Garzón escolheu para si próprio a figura de juiz star que nunca me agradou; muitas das suas atuações também me levantaram, ao longo dos anos, as maiores reservas.

Entendo que um juiz deve ser discreto, e se nunca se falar dele, tanto melhor.
Ao contrário, Garzón há anos que procurava a ribalta, construindo laboriosamente uma imagem de justiceiro universal.

As minhas campainhas de alerta soaram a quando do seu mandato de prisão contra o ditador chileno, Augusto Pinochet.
E se eu abominava aquele homem! Mas, enquanto toda a gente batia palmas, eu franzia o sobrolho; aquilo tresandava a golpe mediático e, sobretudo, parecia-me um atestado de menoridade passado à ex-colónia, a quem não era reconhecida capacidade para acertar as contas com a sua própria história, como e quando o entendesse.

O mesmo se passou com a investigação aos crimes de guerra do franquismo.
Espanha fez, bem ou mal não interessa, um pacto de “esquecimento” sobre o qual construiu a sua atual democracia. Esse pacto será revisto quando, se, e como os espanhóis o entenderem, e não por capricho dum só juiz.

O que agora levou ao seu afastamento ultrapassou, em meu entender, todas as marcas; e não me venham dizer que os juízes do Supremo Tribunal, que votaram por unanimidade a sua suspensão, são todos franquistas ressabiados, porque não posso acreditar nisso.

Escutar as conversas entre presos e seus advogados não é admissível.
Num Estado de direito e democrático, há uma linha que não pode ser ultrapassada, os fins não podem justificar os meios, e as democracias não podem usar os métodos das ditaduras.
Ainda que o bandido nos fuja, ainda que a alma nos doa.

4 comentários:

  1. Não confundas golpe mediático com sentido de justiça!
    Pinochet foi um Hitler dos tempos modernos... e devia ser julgado... mesmo com quase 90 anos!
    Esse ser (para todos os efeitos era um ser daí os malefícios do criacionismo...) nunca respeitou nada nem ninguém para além da sua visão (curta) do mundo!
    E criou uma oligarquia que ainda prepondera no Chile... há pinochetismo sem Pinochet ( até na Europamerklelizada).
    Um beijo... discordante... mas amigo.

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    1. Todos gostamos de um vingador que lave a nossa raiva e impotência contra os opressores desta vida (e Pinochet foi um dos piores) mas se nos descuidarmos com eles, que são humanos, rapidamente se podem transformar em ditadores. Prefiro as baias dum sistema (muito) imperfeito.
      Retribuo as suas despedidas nos mesmos termos:-)

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  2. Ahhh... e não há democracia que possa subsistir através do branqueamento de crimes contra a humanidade perpetrados pelo Franquismo e silenciados como uma condição para que um arremedo de democracia (como estamos a ver... e similar ao português) possa subsistir em Espanha!!

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  3. Querida Maria, sem poder agora lê-la, deixo o meu beijinho.:)

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