sexta-feira, fevereiro 24, 2012

O povo não é sereno

A célebre frase “O povo é sereno”, proferida por Pinheiro de Azevedo durante uma manifestação no longínquo PREC, encerrava, ao tempo, uma certa dose de verdade.

Há quarenta anos, o povo carregava algum fatalismo e conformismo, sem dúvida, mas geralmente acompanhava-os de sobriedade e dum saber de “experiência feito”.

Os tempos mudaram, mudaram muito, e até deixou de haver povo, passando a haver apenas “público”.
Porém, eu gosto desse ancestral termo - povo.

O moderno povo urbano que hoje vemos nos telejornais está cheio de si, das suas verdades indiscutíveis, das suas razões, e, demasiadas vezes, duma raiva quase assassina, pronta para o linchamento se houver oportunidade.

Dúvidas, não tem nunca. É um povo cheio de certezas, aquele que vai para a porta dos tribunais gritar “assassino” e demais impropérios ao arguido antes mesmo de qualquer julgamento, e no fim dele também, se o resultado não for a seu contento.

Arguido de caso mediático é, para este povo urbano e excitado, fatalmente culpado.
Foi assim com os McCann, com Carlos Cruz e agora com Afonso Dias, réu no caso do desaparecimento de Rui Pedro.
Este povo assusta.


3 comentários:

  1. Olá. Por aqui estive a dar uma olhada. Interessante. Apareça por la. Abraços.

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  2. Este povo só é valente com o que não deve ser!!
    Gostava de os ver nas manifs dos Indignados com a mesma força!!
    Mas aí não aparecem eles!!

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  3. Assusta, mesmo.
    Tudo começa em sítios pequenos, como o lugar de trabalho.
    Na minha escola, onde não havia papas na língua, é ver quase toda a gente calada com medo de represálias.
    Quanto à justiça, o que dizer desta injustiça?:(
    bji

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