quinta-feira, fevereiro 02, 2012

O escritor e o blogger, J. Rentes de Carvalho

Acabei de ler, com agrado, “Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia”, livro de contos de J. Rentes de Carvalho. Não sendo, no meu pobre entender, grande literatura, é, contudo, um livro cheio de narrativas limpas, escorreitas, com apurada sensibilidade e sentido de humor.

O autor, que vive em Amesterdão, tem um blogue – TEMPO CONTADO, onde no dia 1 de Fevereiro escreveu isto:

Estamos de parabéns. É admirável como há portugueses que, com aflições de sobra, de pouco tempo dispondo entre o futebol, a televisão e o café, arranjem oportunidade para, ferrenhos, erguendo o punho, brandindo a Moral, se mostrarem solidários com a Grécia.
É um exemplo que nos dignifica, uma atitude enérgica, muito capaz de levar a que a Alemanha reconsidere a teimosia de não satisfazer o calote.

Palavras cínicas, e até ofensivas, dum homem já entradote na idade.

Primeiro, alvitra que os seus compatriotas mais não são do que consumidores de futebol, televisão e café, isto é, não trabalham.
De seguida, mostra que o seu tempo está mesmo muito contado porque não usa nenhum dele para se informar sobre as causas da dívida grega ou a maneira como a união monetária foi construída à medida dos interesses germânicos.

Homem público com pretensões a intelectual não pode limitar-se a emprenhar de ouvido o que se diz lá no paraíso fiscal em que vive – a Holanda, e isso de escrever o que nos dá na real gana é bom para mim e para os meus colegas bloggers sem nome na praça nem livros no escaparate.

J. Rentes de Carvalho, se não quer perder o seu contado tempo com as toneladas de informação disponível, podia, ao menos, ler o seu colega Manuel António Pina

Resumindo: o livro “Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia” recomenda-se, mas o blogue de J. Rentes de Carvalho – TEMPO CONTADO – esse, eu vou evitar, para não contaminar a imagem que criei do escritor.
Se é que ainda vou a tempo.

25 comentários:

  1. Ó minha senhora, por amor de Deus!
    Se é verdade que estamos numa democracia, é igualmente verdade que há valores que não se devem perder e que há que haver algum cuidado com os julgamentos que fazemos.
    Vai, certamente, considerar-me uma intrometida de primeira e o nosso autor, que muito prezo pelas belíssimas crónicas (cheias de humor, ironia, não percetíveis a todos), bem como pelas extraordinárias narrativas não precisa de palavras de conforto, porque "entradote" como diz, não lhe faltarão amizades...
    Se calhar, um pedido de desculpa ficava-lhe bem...mas isto sou eu a dizer, que embora só com 41 anos, pertenço à velha guarda.
    As minhas desculpas pela intromissão. Os blogues são públicos, não é?
    Fique bem.

    ResponderEliminar
  2. nesse caso fazes mal, muito mal - assim como está mal, precisamente porque as opiniões são manifestações de liberdade, escreveres sobre alguém da forma como, também mal, escreves. em jeito de conclusão, atrevo-me, como alegria, a dizer-te que estás mesmo mal.

    obs.: espero que melhores. :-)

    ResponderEliminar
  3. Aviso que foi "trombeteada" no blog do Rentes de Carvalho, do qual nunca livro algum li (ainda) mas admiro o blog - mesmo que, no referido episódio, concorde absolutamente com o excelentíssimo Pina.

    ResponderEliminar
  4. Também já li esse mas gostei mais de "Ernestina" e de "A Amante Holandesa"!
    Cheguei aqui através de "O Tempo Contado"! :-))

    ResponderEliminar
  5. Pois boa tarde!
    Cheguei ao seu blogue por via do "tempo contado", o que só de resto lhe ficou bem!
    Não só concordo com a sua análise (embora pudesse divergir ligeiramente no tom - mas o velhote andava a mercê-las, sem ofensa!)como tentei precisamente fazer-lhe chegar essa opinião com a transcrição precisamente do artigo do Pina (que convenhamos às vezes também se passa!). Mas ele está blindado, só ouve o que lhe interessa (ou não, no seu caso!), gosta de ir pelo seu pé (coisa de transmontano agudizado pelos frios da Flandres!).
    Mas é verdade que a sua postura sobranceira sobre os conterrâneos que não deixaram o torrão, também me tem irritado - se ele não tem culpa do estado a que chegou a choldra, deixe-me já dizer que eu também não,ok?!).
    Mas eu acho que isso é uma fraqueza dele (como aquela sua paixão por mamas - essa já não lamento, tá a ver!).
    Mas estas polémicas são boas, abrem horizontes e truxeram-me ao seu blog que passarei a frequentar. Abraço!

    ResponderEliminar
  6. Respondo a todos, duma só vez, incluindo J. Rentes de Carvalho.
    Antes de mais, não sou anónima. O meu e-mail está bem visível e acessível, ao contrário do que acontece com TEMPO CONTADO onde não vislumbro maneira de comunicar com o autor.
    Também eu já sou “entradota”, não tanto como o autor de Tempo Contado, mas, mesmo assim, o suficiente para ter lido muitos livros e travado algumas lutas desde os 16 anos.
    Nunca emigrei, aguentei e bati-me pelo direito de todos dizerem o que pensam, direito de que não abdico para mim própria; por isso escrevo o que quero e publico todos os comentários.
    Caro escritor, também eu” teimo em pensar pela minha própria cabeça”, teimo em estar informada para poder pensar melhor, e teimo em não ter posturas reverenciais para com figuras públicas.
    Quem tem um blogue é alguém que aceita expor-se, quer ao elogio, quer à critica. Eu aceito.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bem, eu também acho que J. Rentes de Carvalho aceita expor-se, de contrário, não teria publicado o seu post na íntegra.

      Moro na Alemanha há quase 20 anos e é com tristeza que vejo extremarem-se as posições. Se os portugueses e os gregos não vêem com bons olhos a intromissão da Alemanha nos seus países, os contribuintes alemães actuais, que nada têm a ver com a guerra, também não gostam de saber que o seu país é o que mais contribui nas ajudas financeiras. Para sua informação, os alemães nunca gostaram do euro, aderiram cheios de reservas e a maioria era bem capaz de apoiar a saída.

      Eliminar
    2. Cristina, está visto que este "casamento" do euro não foi feliz para muitas das partes envolvidas. Tal como nos casamentos em que as pessoas não estão felizes, teremos que corrigir erros de todos ou...separar.

      Eliminar
  7. Confundir ironia com cinismo é de facto sintoma de "pobre entendimento".
    Como tudo na vida, de uma coisas gostamos de outras nem por isso.
    Se não fosse o "Tempo Contado", nunca aqui viria, o que aliás nunca mais farei, porque este é um sitio banal, com opinião a condizer...
    Sem ofensa,

    Para repetir o argumento, não sou anónimo: tem aqui o meu email: machadinho.1111@gmail.com

    ResponderEliminar
  8. Olá. Disse de si mesma o que abaixo transcrevo. Feminino, Lisboa e que gosta de política, livros e etc. é pouco, falta algo mais, talvez o mais importante. O nome, uma foto, a identidade que permita a todos saber com quem se fala, cara a cara. Sem isso estamos perante uma cobardia. Passando de lado essa falha chegamos ao que interessa. Conseguiu com esse seu comentário passar de um confortável anonimato para um palco reconhecido. Entrou à força e a matar, tem seguidores ou não, mas continua a destilar veneno e a tentar inoculá-lo como uma vulgar víbora louca. Não defendo heróis nem tenho propensão para tal. Já teve a resposta que merecia. Percorri o seu blogue e encontrei escritos interessantes. Lamento que não tenha uma visão correcta da democracia que lhe permita aceitar as diferenças antes impõe a sua como única válida. Declarar-se madura não lhe dá maturidade nem bom senso mas não vim aqui para lhe oferecer conselhos. Espero que continue a escrever. Porque sim.

    Feminino, Lisboa, Portugal, Criatura muito madura que não tendo nada para dizer ao mundo que outros não tenham já dito, e melhor, resolve fazer um blogue só porque sim. Política, Livros, Arte, Pessoas

    ResponderEliminar
  9. "The best lack all conviction and the worst are full of passionate intensity."

    William Butler Yeats

    ResponderEliminar
  10. Concordo totalmente com a tua crítica!
    Também me sinto grego e insultado por palavras destas.

    Beijinho.

    ResponderEliminar
  11. (parece mesmo que a m. está a descarregar os fígados por amor não correspondido. parece.) :-)

    ResponderEliminar
  12. Quanto ao e-mail do J. Rentes de Carvalho, não é verdade que não esteja acessível: jrentes@xs4all.nl

    Quanto à polémica... gosto de polémicas. Sou da opinião do Manuel António Pina, e gosto muito de ler ambos os autores, mesmo quando não concordo.

    Abc.

    ResponderEliminar
  13. Vim aqui parar também através do tempo contado, e parece-me (apesar de provavelmente muito mais nova do que a autora deste blog e do apelidado de "entradote") que há uma coisa que a democracia não dispensa, que é o respeito. Discordar e dar a própria opinião é um direito, a maneira como o fazemos esclarece muitas vezes oq ue fica à sombra do direito à opinião e à tão afamada democracia, que é a forma como encaramos o próximo, seja opositor, amigo ou anónimo, caracteriza-nos sem darmos, provavelmente,conta. Opinar ironicamente, e de forma alguma ofensiva (não me senti ofendida em nada e sou portuguesa e nem estou a dizer que concordo com a opinião expressa), não me parece dar direito a comentários/críticas quase a roçar o insulto. Porque vejamos, quem quer ir fazer vida para outro lado e emigrar, vai, está no seu direito, nem sequer se pode dizer que é menos português por isso, depois presumir que alguém tem determinada opinião porque está menos informado, não será um bocadinho arrogante? As pessoas, em democracia, lá está..., podem discordar estando plenamente informadas, ou não? Partir do pressuposto que alguém discorda de nós porque não percebe nada do que está a dizer, parece-me uma atitude sobranceira e pouco democrática. Mas isto sou eu, que acho que não reverenciar figuras públicas não implica arrogar-me a ter melhor opinião que eles, ou outros ( ainda por cima mais "entradotes", ainda fui educada a ter algum respeito e cuidado com quem já cá anda há mais anos do que eu, ainda que possa não concordar com o que dizem).

    ResponderEliminar
  14. As polémicas podem ser curiosas ou, até, engraçadas, mas nunca me agradaram. Abomino climas crispados, sou essencialmente pacifista e acho que se todos temos direito à nossa opinião, também temos o dever de sermos cordiais e muito civilizados, sobretudo na discórdia. Ou então saimos por aí à bolachada e, para ser verdadeira, vontade não me faltava muitas vezes. Mesmo muitas.
    Não gosto de J. Rentes de Carvalho - adoro-o. Além do extraordinário dom da escrita que tem (benza-o Deus ou o mistério que for responsável por isto tudo), acho-o uma pessoa formidável (já o conheci, num rendez-vous que acabou antes do devido e às escuras).
    Por isso vim ler este post ontem e regressei mais algumas vezes, sem saber muito bem como exprimir a dorzinha que palavras tão superficiais e secas me causaram.
    As críticas são legítimas e todos temos gostos díspares, é facto.
    Mas a delicadeza deveria ser apanágio quando não se gosta, muito mais do que quando se aprecia.
    Somos livres de pensar, dizer e escrever o que entendemos, apenas com os limites da urbanidade imposta por lei mas, e os limites do coração?
    Infelizmente para nós, portugueses, J.Rentes de Carvalho expõe a realidade, eventualmente com um ou outro ponto mais exacerbado, mas a realidade, gostemos, ou não.
    Mas, mesmo os eventuais 'exageros' dele são deliciosos.
    E se existem detractores, ele sabe (espero que saiba) que são muitos mais, mas muitíssimos mais, os seguidores.
    Para mim, ele é um schat praatlustig, begrijpend, hardwerkend, goedgeefs, knap, mooi e - muito importante! - jong!
    'mai'nada!'

    ResponderEliminar
  15. Aqui cheguei por intermédio do Tempo Contado. Envolvido que estou em águas revoltas encontro-me em desvantagem, não sei nadar, mas rio do perigo a que estou exposto, não sou um Lusitano acomodado, sou da família de Viriato, nem insensato para não assumir a responsabilidade dos meus atos, não espero nem sobrevivo das “esmolas dos outros”.

    Sou emigrante, tenho um blog com quatro seguidores, para um mecânico de automóveis considere-se um feito. Sou um admirador do Professor e Escritor J. Rentes de Carvalho, sou um fã de carteirinha. Um dos pontos que me cativa é a sua inteligência e a sensibilidade para descortinar os segredos da vida, poucos o fazem. Numa sociedade discriminadora, complexada e falida, seu valor não é reconhecido, em contrapartida os anões da política: MS, CS, JS e muitos outros, os coveiros da Pátria, ficam imunes a críticas. Culpados são os “outros”, portanto sua crítica, Sra. M, está de acordo com a “inteligência” que impera em Portugal, está por mim desculpada!

    ResponderEliminar
  16. O tempo contado de José Rentes de Carvalho

    O homem está bem de vida. Vive num paraíso (também fiscal). Está bem de ver e de sentir. Contudo, as suas ideias não se recomendam. Andou por cá, só que agora, lá fora, parece que não conhece a gente. Fala de nós como se fossemos um caso perdido, sem emenda, um Costa Concordia como prefere escrever. Desprezo por desprezo, preferimos o dos nativos, não dos holandeses-novos.

    Ao menos que nos devolva as medalhas com que foi
    agraciado por estes pobres de entender (mas ricos em sonhos e generosidade), para podermos abater o quatro de século de fiado.

    Enfim, faço minhas as palavras do próprio: burro velho não toma andadura!

    Vila Nova de Gaia, 3 de fevereiro de 2012.

    Paulo Moreira Lopes
    http://umreinomaravilhoso.blogs.sapo.pt/20074.html

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aviso-o de que também já foi trombeteado pelo Rentes de Carvalho

      Eliminar
    2. Caros m. e Paulo Moreira Lopes, que falta de maturidade, que falta de inteligência, de compreensão da vida no geral! De ambos tenho pena, pena sincera, por estarem nesta vida tão às escuras! Uns pobres coitados à espera das luzes da ribalta que outros, porque são tão melhores, nem precisam de se esforçar para as encontrar!
      Enfim, querer todos podem querer, mas conseguir só alguns conseguem; e se o conseguem é por que têm capacidade para isso!
      Enfim, lamentável a parvoeira demonstrada!

      Eliminar
  17. "CAL", parabéns! Se é mecânico de automóveis, é o orgulho dos profissionais do sector porque o imagino um excelente técnico e um argumentador de especificidades, como aqui se verificou.
    Fico feliz por este conhecimento, pena que não haja pista do blogue, podia 'arrebanhar' mais seguidores, quem sabe?
    Por mim, obrigada pelo testemunho e felicidades. Para si e para todos nós, que bem precisamos (de uma forma, ou de outra).

    ResponderEliminar
  18. Cara m., posso dizer que gostei do post bem como da polémica levantada. Não é um post suave, é uma crítica com tom pesado, ainda assim um tom menos pesados do que alguns dos comentários aqui vi incluídos e que, a bem da democracia e liberdade, m. optou por publicar.
    Vejo muitos comentários sobre a forma e poucos sobre o conteúdo. Concordo com M. que o discurso de J. Rentes de Carvalho é cínico. É o discurso que mete tudo no mesmo saco, atribui todas as culpas da crise grega à Grécia (que obviamente tem muitas culpas) e põe a Alemanha na posição do credor que está farto das acções de “caridade”. A verdade é que quando se está num projecto Europeu baseado na solidariedade e não na “caridade” isso implica que crescemos juntos mas também que sofremos juntos. E ao contrário do que o discurso do atirar culpas pode levar a crer, a Alemanha tem muito a perdeu (parte do qual já o perdeu sem se aperceber como) com esta crise quer do ponto de vista político quer económico.
    Eu declaro-me solidário com a Grécia (e com Portugal), no que diz respeito a um programa de ajustamento que não faz sentido, baseado em premissas económicas que cada vez mais se comprova estar completamente obsoletas (o subprime em 2008 deixou isso a nu). Eu declaro-me solidário com a Grécia em rejeitar liminarmente que qualquer comissário europeu possa supervisionar o governo Grego. Eu declaro-me solidário com a Grécia ao rejeitar ser o bode expiatório da crise que é e deve ser tratada com Europeia. E por fim eu declaro-mo solidário com m. ao afirmar que este o discurso do calote é Cínico e pouco informado.

    ResponderEliminar
  19. Assim percebo melhor a nossa ignorância. E aqui encontrei um bom exemplo. Só se aceitariam críticas se estas fossem feitas pelos que como nós pensam, se pensassem.

    Continuem. Estão no caminho do sul...

    ResponderEliminar