segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Palavras de Richard Zimler

Li, na revista Única do Expresso, um artigo sobre escritores estrangeiros que vivem em Portugal.
Richard Zimler, que vive no Porto há 20 anos, diz três frases corajosas.
Assim:
 - Um dia tive uma revelação: nunca mais vou pedir desculpas por ser eu.
 - Não quero ser adaptado, tenho a lata de pensar que, às vezes, tenho razão.
 - Ficar zangado é a minha bateria.

Se pensarmos bem, ao longo da vida, é frequente não sermos nós próprios; abdicamos de o ser para corresponder às expectativas dos outros - nossos pais, filhos, companheiros, colegas, patrões, amigos, vizinhos etc.
O momento em que decidimos “nunca mais pedir desculpa por ser eu” é, como Zimler diz, um momento de revelação, o momento da verdade, da maturidade, o momento de deitar fora os antidepressivos de que, ao que parece, somos grandes consumidores. E se esse corresponder, de facto, ao momento duma vida, é impossível que se transforme no muito frequente autismo com que nos deparemos e que, com arrogância, nos dispara: “eu sou assim, e pronto”. Pelo contrário, a autêntica aceitação e afirmação do que somos conduz directamente à aceitação do que o outro é, logo, à facilidade de harmonizar posturas distintas, quando não, em conflito.
A segunda declaração está profundamente ligada com a primeira porque ter “a lata de pensar que tenho razão” é também não ter medo de se ser o que se é. Umas vezes vem a provar-se que tínhamos razão, outras vezes nem tanto, mas, em qualquer das duas situações, quem “não pede desculpas por ser eu”, nunca exige uma medalha por ter razão nem vai esconder-se debaixo da cama por não a ter.
Finalmente, ficar zangado não é só uma bateria, é frequentemente o próprio, e bendito, motor para resistir sem antidepressivos, e para cada um no seu “quarteirão” tentar melhorar um pouco a vida de todos e de cada um.
Nunca li nada de Richard Zimler, mas acho que vou ler.   

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