terça-feira, fevereiro 22, 2011

Era uma vez um funâmbulo


Numa madrugada do final do verão, os habitantes de Manhattan observaram incrédulos e em silêncio as Torres Gémeas. Estamos em Agosto de 1974 e um misterioso funâmbulo corre, dança e salta entre as torres, suspenso a 400 metros do chão.

Excerto do texto de contracapa do livro “Deixa o Grande Mundo Girar” de Colum McCann, editora Civilização, 2010, vencedor do National Book Award 2009.

A 7 de Agosto de 1974, confesso que pouco liguei à notícia e dela guardo uma muito vaga recordação. Por essa altura, os que não tinham ido para o estrangeiro tinham uma revolução para fazer; por aqui aconteciam demasiadas coisas todos os dias, vivíamos o “verão quente” e pouco nos interessava o que se passava no resto do mundo. Muito mais importante era perceber, hora a hora, minuto a minuto, se a liberdade tinha vindo para ficar ou se ainda nos podia ser confiscada.
Este livro de Colum McCann pega no dia desse inusitado acontecimento, levado a cabo pelo francês Philippe Petit, para traçar um vasto quadro de Nova Iorque dos anos de 1970.
Agarrando em meia dúzia de personagens que construiu e transformou, cada uma delas, numa peça de puzzle, monta o dito puzzle inteirinho, onde tudo se encaixa no final.
O Bronx, o terrível Bronx dos anos de1970, em que tudo era miséria, droga, crime, medo, prostituição, sujidade, lugar de vida de todos os deserdados da grande cidade, é o epicentro da (s) história (s). Lá, somos apresentados às prostitutas Tillie e Jazzlyn, mãe e filha, ao padre católico Corrigon que o seu irmão tenta salvar de Deus e que cairá de amores por uma Guatemalteca clandestina, e a Gloria, que perdeu três filhos na guerra do Vietname.
Pelo caminho, conheceremos também moradores de Park Avenue, isto é, Claire, que também perdeu o seu filho único no Vietname, casada com o juiz judeu Soderberg, que acabará por julgar o funâmbulo, libertando-o a troco da realização de um espectáculo para crianças em Central Park.
Inventor de histórias pessoais muito ricas, Colum McCann, é mestre a cruzá-las, produzindo 430 páginas de texto que nunca nos aborrece, que nos pode comover mas que nunca é lamechas.
No final, numa nota do autor, ele escreve – “A literatura faz-nos lembrar que a vida não está já toda escrita: existem ainda muitas histórias para serem contadas”.
Não sendo um livro inesquecível é, sem dúvida, um grande romance.
Palavras que dele reterei por muito tempo:

NINGUÉM CAI ATÉ METADE

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